Título: Recessão de 0,2% vira estagnação de 0,5%
Autor: Cássia Almeida e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/12/2004, Economia, p. 27

A economia brasileira não amargou uma recessão em 2003, mas uma estagnação. O IBGE informou ontem que o PIB avançou só 0,5% no ano passado, contra um cálculo preliminar, anteriormente divulgado, de queda de 0,2%. O número negativo, logo no primeiro ano do mandato do presidente Lula, fora alvo de críticas contra a política econômica do governo. Mas, mesmo com o desempenho ligeiramente positivo do PIB constatado agora, os brasileiros, de fato, ficaram mais pobres em 2003: o PIB per capita teve queda de 0,91%, no pior resultado desde 1998, quando o recuo fora de 1,36%. Antes da revisão, a redução na renda per capita estava calculada em 1,5%.

Os números mostram que o Brasil produziu um total de R$ 1,56 trilhão em riquezas no ano passado. Com isso, cada brasileiro ganhou em média R$ 8.694,47 em 2003.

Carga tributária cai pela primeira vez desde 1997

A revisão para cima nas estatísticas do PIB foi proporcionada, principalmente, por um resultado melhor na construção civil. Foi incorporada na contabilidade do PIB a mudança metodológica realizada este ano na Pesquisa Industrial Mensal, também do IBGE. Com isso, o setor de construção civil, que antes registrava uma queda de 8,6% em 2003, passou para uma redução de 5,2%.

¿ Só a construção civil já foi responsável por fazer o PIB sair de um número negativo para uma taxa positiva ¿ explicou Gélio Bazoni, do IBGE.

O bom resultado da construção civil fez a taxa da indústria, que antes fora calculada em -1%, ficar em 0,1%, também ligeiramente positiva no ano de 2003.

Os dados apresentados ontem pelo IBGE mostram ainda que, na divisão do bolo da riqueza nacional, os empregados viram sua fatia encolher: de 36,1% em 2002 para 35,6% em 2003. Redução que vem sendo observada, pelo menos, desde 1994, quando a participação da remuneração dos trabalhadores no PIB era de 40,11%. Também os autônomos perderam espaço, de 4,6% para 4,5%. Para o economista Armando Castelar, do Ipea, isso reflete a deterioração no mercado de trabalho, com o aumento da subocupação.

O único segmento que apropriou uma parcela maior da renda nacional em 2003 foi as empresas, que saíram de 41,9% em 2002 para 43% no ano passado.

¿ Isso não significa que as empresas tiveram um resultado operacional melhor. Esse aumento é, em parte, resultado da desvalorização menor do câmbio em 2003 ¿ disse Carlos Sobral, gerente de Contas Trimestrais do IBGE.

Segundo ele, em 2002 as empresas pagaram R$ 70 bilhões em juros de sua dívida (em grande parte, débito em dólar). Com a menor depreciação do real, o pagamento de juros caiu para R$ 58 bilhões em 2003.

As contas consolidadas de 2003 também apresentaram uma mordida menor dos impostos na economia. A carga tributária, que alcançara 34,9% do PIB em 2002, caiu para 34% em 2003, na primeira queda desde 1997. Houve uma alta de 13% na arrecadação, mas o recolhimento não conseguiu ultrapassar o desempenho do ano anterior:

¿ A arrecadação em 2003 não manteve o desempenho excepcional de 2002, quando se instituiu a Cide (Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico), e a CPMF foi cobrada ao longo de todo o ano ¿ disse Dione de Oliveira, gerente de Contas Públicas do IBGE.