Título: Uma guerrilha
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 26/11/2004, Primeiro Caderno, p. 9
Os tropeços importantes que o governo Lula vem enfrentando não são na economia, como tanto se temeu, mas na política, onde se esperava que o presidente e seu time dariam um show de competência. Com este diagnóstico é que o presidente Lula está assumindo a coordenação política, fazendo do ministro Aldo Rebelo seu executivo. Mas isso esbarra numa pedra grande, o PT.
A gestão política andou muito bem até o momento em que o ministro José Dirceu foi atingido pelo caso Waldomiro. Antes, o governo havia aprovado as reformas no Congresso com êxito e neutralizado a oposição através de um bom entendimento com os governadores. Dirceu, até então assoberbado por suas múltiplas tarefas de superministro, concordou com a divisão de atribuições e até defendeu o nome de Aldo para a coordenação política na área parlamentar. Talvez esperasse que ele não pegasse o vôo próprio, operando como um subordinado seu. Sobrevieram as eleições municipais e o esgarçamento da base governista, fazendo prevalecer conceitos de Aldo, de que o governo deve ser mais solidário com os aliados. Havia também se manifestado contra a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Ele cresceu também no conceito de Lula, que segundo as informações mais seguras, está disposto a bancar sua permanência no cargo. Quer Dirceu dedicado exclusivamente à coordenação administrativa. Disse-lhe isso na sexta-feira passada. Sabe-se que Dirceu ficou entre irritado e deprimido. Ontem estava melhor, diziam os amigos. Dirceu é um soldado de Lula mas o PT continua inconformado, mirando na reconquista da Coordenação Política. Os petistas querem ali o hoje presidente da Câmara, João Paulo. Ele trabalharia afinado com Dirceu, propiciando o fim do bate-cabeças entre os governistas. Não entregaram os pontos. Se Lula tivesse substituído Aldo agora, teriam perdido a parada. Acham que têm tempo, até fevereiro, para travar a batalha. Sinal então de que os problemas na área política persistirão por mais tempo.
Aldo tem uma alma mista de sertanejo e comunista. Do primeiro, a humildade para engolir sapos. Do segundo, a disciplina para cumprir tarefas. Só sairá se Lula pedir.