Título: Rio será reprovado na avaliação dos acessos a portadores de deficiência
Autor: Alessandro Soler
Fonte: O Globo, 06/12/2004, Rio, p. 11

Arquitetos e urbanistas de 64 países percorrerão o Rio, esta semana, avaliando a acessibilidade para deficientes físicos em pontos turísticos, shoppings, bancos, museus, teatros, cinemas, ruas. Eles vêm à cidade participar da Conferência Internacional sobre Desenho Universal, pela primeira vez realizada aqui. Na avaliação da organizadora do evento, a arquiteta Verônica Camisão, e de um dos principais palestrantes, o advogado Geraldo Nogueira, não faltarão críticas à pobre infra-estrutura para deficientes de que dispõe a segunda metrópole da América do Sul.

Nem os maiores cartões-postais cariocas escaparão das notas baixas: no Pão de Açúcar simplesmente não há acesso para deficientes, e os cadeirantes têm de ser carregados no colo escada acima; no Corcovado o trem não tem entrada nem assento especial; e nenhuma das praias do Rio dispõe de esteiras ou rampas de acesso, itens básicos em cidades litorâneas desenvolvidas como Barcelona (Espanha) e Sydney (Austrália).

Transporte público na cidade é inadequado

A conferência começa amanhã e reunirá 800 participantes. Grupos de 25 a 30 pessoas se formarão para avaliar a acessibilidade na cidade. De posse das conclusões, os especialistas encaminharão sugestões de melhorias ao poder público.

¿ O Ministério das Cidades realizou uma pesquisa em mais de 200 cidades com mais de 60 mil habitantes no país e chegou à conclusão de que apenas 4% delas têm infra-estrutura minimamente satisfatória para pessoas com dificuldades de locomoção ¿ conta o advogado Geraldo Nogueira, paraplégico e vice-presidente da Rehabilitation International, o braço das Nações Unidas para as questões relativas aos deficientes. ¿ O Rio está nos últimos lugares no país. E o transporte público é o maior vilão.

Não há ônibus ou táxis adaptados para deficientes em circulação na cidade. E, de acordo com Nogueira, das 32 estações do metrô, apenas dez têm acesso.

¿ Uma cooperativa com 40 taxistas tenta obter recursos no BNDES para fazer adaptações nos seus automóveis, mas até agora não conseguiu. No Rio um cadeirante não tem o direito de sair sozinho e usar o transporte público ¿ critica a arquiteta Verônica Camisão, uma das diretoras da ONG CVI Rio, organizadora do evento na cidade.

Mesmo que dispusessem de um sistema de transporte adequado, os deficientes teriam dificuldades de transitar pelas calçadas do Rio. O estado de conservação geral é ruim e, na avaliação de Verônica e Nogueira, há poucas rampas de acesso. A maioria fica em ruas que já tiveram melhorias urbanísticas como o Rio Cidade.

¿ A prefeitura só deveria dar o habite-se a construções com acesso adequado ¿ diz o advogado. ¿ Mas nos próprios prédios públicos a situação é vergonhosa. Teatro Municipal, Biblioteca Nacional, Museu Nacional e Museu de Belas Artes não têm entradas para deficientes. Agora, a situação mais emblemática é a da Câmara Municipal, a casa do povo, onde não há acesso ao plenário. Um elevador de R$ 12 mil resolveria a questão. Isso não é nada para uma casa que gasta R$ 78 mil mensais com cada vereador.