Título: Jornal argentino alerta para violência no Rio
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 06/12/2004, Rio, p. 15
¿Atenção: você acaba de chegar ao Rio de Janeiro e está sendo observado. Alguém estudará o tamanho de sua bagagem e avisará por celular se se trata de um bom alvo para ser assaltado antes de chegar ao hotel¿. Este é o primeiro parágrafo de uma reportagem publicada ontem pelo jornal argentino ¿La Nación¿, um dos mais importantes do país, com chamada na primeira página. Na esteira da polêmica provocada recentemente pela publicação de uma reportagem no jornal britânico ¿The Independent¿, que chamava o Rio de a cidade da cocaína e do massacre, o jornal argentino assegurou que os turistas de seu país correrão sério perigo se decidirem passar suas férias em terras cariocas.
Segundo jornal, bairro mais perigoso é Copacabana
¿O perigo de ser turista no Rio de Janeiro¿ foi o título escolhido pelo ¿La Nación¿, cujos leitores são basicamente de classe média alta. O jornal argentino alerta para o risco de transitar pela Linha Vermelha à noite. ¿Se você chegar ao Aeroporto Internacional do Galeão à noite, talvez deva seguir uma recomendação cada vez mais freqüente: passar a noite em algum lugar próximo (ao aeroporto) para evitar circular pela Linha Vermelha, a estrada que passa perto das favelas perigosas, às vezes cenário de tiroteios entre gangues e piquetes de traficantes armados com metralhadoras e fuzis¿, diz a reportagem.
O texto detalha uma série de incidentes ocorridos no Rio com turistas, entre eles o assalto à tripulação da companhia aérea Taag, de Angola. O ataque à prefeitura do Rio, em 2002, também foi lembrado pelo jornal argentino, que divulgou ainda os números da violência. ¿Em 2003 foram assassinadas 7.998 pessoas no Rio. No Brasil, 110 pessoas são vítimas de homicídio todos os dias, número que já é impressionante para um país que não enfrenta conflitos bélicos. No Rio, são assassinadas 18 pessoas por dia¿, informou o ¿La Nación¿, que apelou para a letra de uma música de Marcelo D2 para dar uma idéia da situação: ¿Sarajevo é brincadeira, isto é Rio de Janeiro¿.
Em entrevista ao jornal argentino, o cônsul do país no Rio, Agustín Molina, assegurou que ¿a maioria dos casos (de assalto) ocorre em Copacabana¿. Já o secretário de Turismo do Rio, Rubem Medina, disse que ¿o problema é nacional¿. O secretário acrescentou: ¿Fazemos um esforço brutal para atrair turistas e quando este tipo de coisas acontecem eles se afastam¿.
O lugar mais arriscado para turistas, alertou o jornal, é Copacabana. ¿Caminhar à noite pela calçada em frente à praia é pedir para ser assaltado. Grupos de dois ou três rapazes circulam pela praia em busca de turistas¿, avisa o ¿La Nación¿, que reproduziu declarações do presidente Lula sobre a violência no Rio e a necessidade de divulgar fatos positivos sobre o país. ¿Entre o discurso do presidente (semana passada) e a leitura desta matéria, 90 pessoas foram assassinadas no Rio de Janeiro¿, concluiu o jornal.
Secretário diz que casos no Rio têm mais visibilidade
O secretário estadual de Turismo, Sérgio Ricardo de Almeida, afirmou que os casos de violência contra turistas quando acontecem no Rio têm mais visibilidade do que em qualquer outra cidade do país ou do mundo.
¿ Este não é o tipo de reportagem que gostaríamos de ler. Às vezes, os argentinos acordam amargos e decidem criticar o Rio. Mas saem informações positivas também.
Segundo o secretário, o Rio recebe cerca de 100 mil turistas argentinos por ano. A previsão para este ano é que 100% da rede hoteleira esteja ocupada no réveillon.
¿ É só passar pela Avenida Atlântica em dias de sol: está cheia de argentinos.