Título: Faro comandou atos de sem-terra
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 08/12/2004, O país, p. 3

José Roberto Faro foi presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) no Pará. Antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele era mais conhecido como ¿Beto da Fetagri¿, um intransigente defensor da reforma agrária e organizador de diversas manifestações feitas por agricultores pela posse da terra no Pará.

Em 1999, por exemplo, Faro comandou cerca de três mil pessoas, na maioria pequenos agricultores, no bloqueio da rodovia PA-252, na bifurcação com a PA-140, em Concórdia do Pará, a cerca de 140 quilômetros de Belém. Na ocasião, Faro ameaçava marchar até Belém para protestar contra o que considerava descaso do governo e suspeitas de irregularidades em órgãos como o Incra na liberação de terras.

A nomeação de Faro para a Superintendência do Incra foi comemorada pelas entidades ligadas aos trabalhadores rurais. Seria a primeira vez no Pará que o órgão passaria a ser comandado por alguém saído diretamente de movimentos de briga pela terra.

Superintendente foi alvo de críticas e manifestações

O encanto durou pouco. Apesar de afirmar que em 2003 já haviam sido assentadas 3.842 famílias ¿ das quais 135 eram do MST ¿ e que a meta para este ano seria de assentar 6.400 famílias, Faro teve que enfrentar diversas manifestações dos agricultores sem-terra, que o acusavam de descaso. A principal manifestação foi a interdição de estradas e a intensificação das marchas de trabalhadores rurais há menos de dois meses em Belém e em outros municípios paraenses.

Acuado pela acusação de fraude, Faro constrangeu velhos companheiros de movimento social. As assessorias do superintendente do Ibama no Pará, Marcílio Monteiro, e do presidente do PT no Pará, Paulo Rocha, informaram que ¿não há muito o que comentar¿ em relação ao assunto.

Os funcionários do Incra comandados por Faro e que foram presos identificavam, segundo a PF, as áreas devolutas da União e obtinham documentos fraudulentos dando posse dessas áreas para particulares. Os empresários participavam como financiadores e beneficiários do esquema. Essas terras passavam então às mãos dos plantadores de grãos, a preços muito abaixo dos de mercado e em áreas privilegiadas. Faro recebia a propina pela transação ilegal e repassava para os demais funcionários da superintendência, segundo a PF.