Título: Rossetto evita comentar e solta nota anunciando exoneração de envolvidos
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Fonte: O Globo, 08/12/2004, O país, p. 4

Em nota divulgada ontem, o Ministério do Desenvolvimento Agrário anunciou a exoneração do superintendente do Incra no Pará, José Roberto Faro, e o afastamento dos outros servidores da autarquia acusados de envolvimento no esquema de grilagem de terra no Pará. O Incra abriu inquérito administrativo contra os envolvidos que fazem parte do quadro da instituição e determinou a intervenção na superintendência.

Na nota, o ministério afirma que a ação da Polícia Federal dá seqüência a um conjunto de medidas do governo federal. ¿O ministério e o Incra continuam a coibir todas as irregularidades para deter a ocupação desordenada da Amazônia Legal¿, diz a nota.

Faro foi indicado para o cargo por movimentos sociais. Ele foi ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e presidiu a Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetagri) no Pará, entidade vinculada à Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag). O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, não quis dar entrevistas. O presidente interino do Incra, Roberto Kiel, disse que o processo de escolhas dos superintendentes do Incra nos estados não foi unificado.

¿ Em cada região foram mobilizadas forças políticas que indicaram os superintendentes. Cada nome indicado passou por uma rigorosa pesquisa de segurança no governo ¿ disse Kiel.

O dirigente do Incra disse que ficou surpreso com o envolvimento de servidores do instituto no escândalo. Kiel classificou de ¿grande infelicidade¿ a participação de tantos funcionários da autarquia. Ele negou que movimentos sociais como MST e entidades como a Contag tenham indicado dirigentes para o Incra. Mas vários superintendentes foram indicados pelas direções dos movimentos e houve até disputa nos estados.

Produtores acham que governo está contra eles

Em Minas, a Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg) divulgou pesquisa informando que quase 60% dos produtores mineiros entendem que o governo está mal intencionado, age contra o grupo e em favor dos invasores. Para o presidente da Faemg, Gilman Viana, algumas ações do governo motivam esta queixa do setor, como, por exemplo, dar dinheiro às cooperativas do MST.

¿ Os assentados nos acampamentos do MST são obrigados a repassar parte do que recebem do governo federal para investir nos assentamentos para o MST, isto é ilegal, por se tratar de dinheiro público ¿ disse Gilman Viana.

Além disto, 87,86% dos produtores entrevistados consideram que o governo é tolerante e estimula os invasores e acreditam que os conflitos de terra vão aumentar e provocar a radicalização nos dois lados.