Título: Sumiço de Natal
Autor: Ledice Araujo e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 08/12/2004, Economia, p. 27

Após um 2003 de vacas magras, a recuperação de renda e a criação de mais empregos estão animando o consumidor a gastar mais neste Natal. Em algumas lojas, já há produtos em falta. É o caso da boneca Miracle Baby, da Mattel, que está esgotada na Ri Happy (R$ 370) do Norte Shopping e na Video Game Center (R$ 359,40) do Shopping Tijuca. Os presépios maiores, que custam entre R$ 179 e R$ 199, já acabaram na Aydan, na Saara. A loja só dispõe agora de modelos menores, a R$ 59.

Esse também é o caso da rede Alfaias, onde o jogo de lençol em percal 200 fios, vendido a R$ 210, já esgotou. Os 40 jogos em estoque desde meados de novembro sumiram em 20 dias e a rede já pediu uma nova remessa de 70 peças para durar até o Natal. Ou seja, saem de cena os presentes mais baratos, de até dez reais, e brilham nas prateleiras produtos de preços mais altos ¿ desde brinquedos na faixa dos R$ 300 até televisores de plasma que custam cerca de R$ 19 mil. O parcelamento facilitado e o desconto de até 10% para pagamentos à vista estão alimentando a febre de consumo.

¿ Papai Noel vai ficar devendo alguns presentes este ano ¿ diz Julio Ezagui, sócio da Video Game Center.

¿ Este comportamento não é surpresa. A melhoria de renda com a desaceleração da inflação e o aumento do emprego estimularam o consumidor a gastar mais ¿ avalia João Carlos Gomes, coordenador do Núcleo Econômico da Federação do Comércio do Rio (Fecomércio).

Dobram vendas de TVs de R$ 19 mil

As pesquisas já indicavam esta tendência. As empresas aumentaram as encomendas para o fim do ano em 6%. O percentual de consumidores que manifestou a intenção de gastar o décimo terceiro com compras de presentes subiu de 22,5% em 2003 para 40,6% este ano. E outro fator que concorreu para o movimento maior foi o aumento de empregos temporários no Estado do Rio: 50 mil a mais que no ano passado.

¿ O pagamento facilitado com mais parcelas e juros mais baixos foi outro atrativo. A expectativa do consumidor hoje é mais positiva.

Esse otimismo é registrado pelo fluxo de pessoas nos shoppings. Segundo registros da Feixe Tecnologia, de quarta-feira a domingo o movimento cresceu 10%, em média, nos 12 principais shoppings do Rio.

Um dos grandes sucessos de vendas são os televisores de cristal líquido e plasma. Na Fast Shop do BarraShopping, custam cerca de R$ 19 mil. No último fim de semana, foram vendidas dez unidades. Há um ano, nesta mesma época, saíam só cinco. A loja trabalha com parcelamento em até 12 vezes sem juros no cartão, mas, nesse segmento, a compra é paga em seis até dez vezes.

As condições atraíram o comerciante Fábio Januário da Silva e sua mulher, Vânia Freitas, que moram em Campo Grande e ontem tiravam as medidas dos modelos da loja do BarraShopping. Após um ano pesquisando preços, eles vão comprar um televisor de alta definição este mês. O modelo de 57 polegadas custa R$ 13.900 e eles pretendem lançar mão do pagamento em seis vezes.

Nas 11 ruas que compõem o comércio popular da Saara, no Centro do Rio, as lojas de produtos com preços abaixo de dez reais ainda são as mais movimentadas. Mas os clientes estão mais exigentes e procuram também artigos de melhor qualidade. A Aydan, da Rua da Alfândega, já vendeu os 18 Papais Noéis que tinha em estoque, por R$ 600. O gerente Milton Barcelos disse que a temperatura das vendas está bem mais alta que a do ano passado.

¿ O emprego aumentou e animou o consumidor ¿ conclui ele.

Na Espaço Grendene, a gerente Letícia Custódio se prepara para um corre-corre maior e, para garantir o atendimento, já teve de repor o estoque de três tipos de sandálias. Uma delas, a da Sandy infantil: o primeiro estoque, de 120 pares, esgotou em 15 dias, e a loja recebeu mais 150. Na Mercatto, que parcela em até cinco vezes no cartão de crédito, o fluxo também está bem maior. Entre os artigos que já foram renovados está a calça jeans branca, de R$ 49,90.

No comércio eletrônico, as vendas em dezembro também estão a todo vapor, reflexo da demanda reprimida, de acordo com Marcelo Lobianco, diretor de marketing do Shoptime, que projeta vendas 50% maiores este ano. O parcelamento em 12 vezes sem juros de câmeras digitais na faixa de R$ 2 mil aqueceu as vendas: hoje são 70 câmeras por dia. No ano passado, eram apenas 40.