Título: Lula anuncia amanhã novo valor do mínimo
Autor: Cristiane Jungblut, Maria Lima e Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 14/12/2004, O País, p. 8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá anunciar amanhã, em reunião com dirigentes das centrais sindicais, o valor do salário-mínimo que vai vigorar em 2005. Já está decidido que não será menor do que R$ 290. Isso representa um aumento de 11,54% em relação aos atuais R$ 260, com ganho de 3,5% em relação à inflação prevista para este ano pelo IPCA.

O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, disse ontem, após mais uma rodada de negociação sobre o assunto no Palácio do Planalto, que o governo está analisando duas propostas: R$ 290 em janeiro ou R$ 300 em maio. Outra alternativa em estudo seria um reajuste menor em janeiro, deixando o mínimo em torno de R$ 283, e um aumento complementar em maio, elevando-o para R$ 300.

Ministro é favorável a mínimo de R$ 300

O ministro é favorável ao reajuste do mínimo para R$ 300 em maio, pois esse valor significaria um aumento real de 8% acima da inflação:

¿ Essa seria uma conquista bastante importante para quem ganha salário-mínimo. Na verdade, o importante é termos um número que possa significar um real aumento. O presidente está consciente de que é preciso resolver essa questão.

Embora a tendência seja a de um reajuste único para R$ 300 em maio, Lula ficou interessado ontem, durante a reunião com ministros no Planalto, na alternativa da correção dupla.

¿ Seria uma fórmula híbrida. Daria um aumento menor em janeiro e um maior em maio. Isso ajudaria o povo mais necessitado, que começaria a gastar o aumento já no inicio do ano ¿ disse o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), informando que o relator do Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), ficou de discutir valores com a equipe econômica e com os demais líderes do governo.

O presidente da Comissão de Orçamento, Paulo Bernardo (PT-PR), também disse acreditar que a tendência do governo será mesmo optar pela proposta de um reajuste único. Na reunião de ontem, o assessor especial da Presidência, José Graziano, argumentou que, se o governo concedesse algum reajuste em janeiro, tiraria do sufoco quem gastou mais do que podia no fim de ano, além de movimentar a economia.

Equipe econômica considera risco dois reajustes

Lula gostou da idéia, mas foi advertido pela área econômica que seria um risco a concessão de dois reajustes anuais, pois essa regra poderia se perpetuar. Os integrantes da equipe econômica alertaram que a regra para o reajuste do mínimo deve ser permanente. Se a decisão for pelos R$ 300 em maio, o impacto nos gastos seria de R$ 8 bilhões ao ano.

Berzoini informou também que as questões do salário-mínimo e da correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física serão resolvidas em conjunto porque têm impacto no Orçamento. O ministro do Trabalho disse que um reajuste linear da tabela do Imposto de Renda seria a forma mais correta de beneficiar a todos de uma forma igual.

As centrais sindicais reivindicam um reajuste linear de 17% na tabela do Imposto de Renda, mas a área econômica do governo estuda outras alternativas, como a concessão de um reajuste menor, em torno de 10%, e de um abono compensatório. Durante a reunião o assunto da correção da tabela do Imposto de Renda ficou em segundo plano.

Palocci foi evasivo ao falar de correção de tabela

Quando os participantes da reunião no Planalto perguntaram ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre a solução que seria dada para corrigir a tabela, ele foi evasivo e disse que primeiro era preciso cuidar do mínimo. O secretário da Receita, Jorge Rachid, apresentou simulações sobre a correção e disse ainda não saber se haverá correção da tabela ou apenas um abono.

¿ Pelo que entendi, Palocci quis dizer que não daria os dedos logo, primeiro entregaria os anéis ¿ disse Paulo Bernardo.