Título: Queda do dólar também dá lucro
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Fonte: O Globo, 14/12/2004, Economia, p. 25
O dólar não pára de cair e, mesmo assim, as exportações brasileiras, até agora, não perderam o vigor. O governo informou ontem que o Brasil obteve um forte superávit na segunda semana de dezembro. Enquanto empresários e analistas se preocupam com os efeitos do câmbio para as vendas externas de 2005, muitos exportadores, por enquanto, estão obtendo ganhos financeiros com a queda do dólar. Especialistas em comércio exterior explicam que a maioria das vendas que seguem para fora hoje tiveram seu contrato de câmbio fechado há cerca de seis meses, quando o dólar estava entre R$3 e R$3,10 ¿ ontem, a moeda fechou a R$2,764.
Além disso, muitos exportadores recorrem ao adiantamento de contrato de câmbio (ACC), operação pela qual recebem de bancos comerciais, antecipadamente, o valor que será pago pela mercadoria no embarque. O adiantamento é quitado pelo exportador na conclusão da venda, com juros que hoje estão em 5% ao ano para as operações de seis meses. Só que, nos últimos seis meses, a queda do dólar já chega a 9%.
¿ Quem fez ACC ganhou dinheiro e, agora, não tem do que reclamar ¿ afirma o consultor Hélio Sirimarco.
Câmbio pode afetar vendas em 2005
Hoje, estima-se que até 70% dos exportadores brasileiros usam os ACCs. Diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro acrescenta que algumas grandes empresas, que têm mais capital de giro, podem inclusive usar os recursos antecipados nas ACCs para aplicar em reais e obter ganhos vantajosos com os juros brasileiros de 17,25% ao ano.
¿ Elas usam o ACC só para ter ganhos com arbitragem (diferença entre juros internos e externos).
Castro ressalta, porém, que as pequenas e médias empresas serão duramente afetadas pela queda do dólar. O impacto para o saldo comercial do Brasil será sentido a partir de março de 2005.
¿ As exportações que estão crescendo agora são de manufaturados, cujos contratos são feitos com cerca de seis meses de antecedência.
A Volkswagen, que este ano deve exportar 200 mil carros ¿ 20% mais do que em 2003 ¿ com faturamento de US$1,5 bilhão, já está revendo suas metas para o mercado externo em 2005. Segundo o gerente de exportações da VW, Leonardo Soloaga, caso o dólar se mantenha abaixo de R$3, a empresa não conseguirá expandir em 10% suas exportações em 2005 e, na melhor das hipóteses, repetirá o resultado deste ano. A VW também diz ter sofrido com fortes reajustes nos preços de insumos, como aço e borracha:
¿ Não podemos continuar exportando com o nível de preços de hoje, por isso estamos negociando com nossos clientes ¿ disse.
No caso dos produtos básicos, as receitas com exportações de soja devem cair de US$10 bilhões este ano para US$8,5 bilhões a US$9 bilhões em 2005, não só por causa da queda do dólar mas também pelo recuo na cotação do grão, prevê o economista Marco Antonio Franklin, da Plenus Gestão de Recursos:
¿ Os produtores também estão sofrendo com a alta nos preços de defensivos agrícolas. O grande risco é que a perda de rentabilidade os faça reduzir a área de plantio em 2006.