Título: CEF: RENDA INIBE ACESSO A FINANCIAMENTO
Autor:
Fonte: O Globo, 14/12/2004, Economia, p. 28
O descompasso entre a renda e o crescimento econômico fará com que a Caixa Econômica Federal (CEF) não repasse mais que 75% dos R$8 bilhões em crédito destinados ao financiamento habitacional em 2004. As estimativas são do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso. Segundo ele, a renda foi o maior entrave.
¿ O problema foi, sobretudo, renda. Obviamente que, com a retomada da atividade econômica e a expansão do emprego, é inevitável o crescimento da renda. Até o fim do ano, cerca de 70% a 75% (do orçamento serão destinados) à área de habitação. Por que o mercado não cresceu conforme as nossas expectativas? Porque a renda, infelizmente, não deslanchou tão intensamente como nós prevíamos ¿ disse Mattoso ontem, durante um debate sobre desenvolvimento econômico promovido ontem pela Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro.
Caixa terá orçamento total 50% maior em 2005
Segundo o presidente da Caixa, houve problemas com o Programa de Subsídio à Habitação (PSH), porque os leilões só foram realizados mais próximo do fim do ano:
¿ Os recursos da classe média, em parte, ficaram na expectativa das mudanças que nós fizemos no programa de apoio à produção, que era uma antiga demanda do setor de construção civil e só conseguimos colocar à disposição do mercado em outubro.
Repasses ao saneamento, de R$2 bi, serão integrais
Mattoso disse, entretanto, que não encara a sobra de recursos como um contratempo:
¿ Isso para nós não é um problema, apenas indica que o mercado não se desenvolveu da maneira como imaginávamos. E, mesmo assim, o setor da construção civil cresceu extraordinariamente: 7%, mesmo com 75% do financiamento. Nossa participação, de 70% a 75%, ainda é bem mais importante que a do setor privado, que só colocou R$2,2 bilhões no ano. O que imaginavam era colocar R$3 bilhões e nós vamos colocar mais que o dobro, em torno de R$6 bilhões.
Do orçamento total de R$10 bilhões da Caixa para 2004, cerca de R$8 bilhões seriam destinados ao financiamento à habitação e os R$2 bilhões restantes, ao saneamento. Os repasses ao saneamento, porém, serão de 100%, de acordo com Mattoso.
O Conselho Curador do Fundo de Garantia reúne-se hoje para acertar o orçamento para 2005. O presidente da instituição adiantou, porém, que o caixa deverá ser de R$15 bilhões ¿ 50% a mais que em 2004 ¿ dos quais cerca de R$11 bilhões serão destinados à habitação e outros R$4 bilhões a saneamento e infra-estrutura.
¿ O setor privado prevê mais cerca de R$12 bilhões no ano que vem, mas eles mesmo dizem que dificilmente conseguirão colocar todos esses recursos. Mas acreditamos num crescimento da renda e por isso estamos ampliando os recursos para a área de habitação. Estamos prestes a iniciar um ano de ouro para a construção civil ¿ acrescentou o presidente da Caixa.
No mesmo evento, o senador Rodolpho Tourinho (PFL), relator do projeto das Parcerias Público-Privadas (PPPs) no Senado, disse que as PPPs não são uma panacéia:
¿ O projeto das PPPs não vai resolver todos os problemas brasileiros. É um projeto complicado e o governo vai ter que continuar investindo na área de infra-estrutura da mesma forma que a iniciativa privada vai ter que continuar a investir na área de concessões. As PPPs são um avanço institucional, mas esse é um projeto caro e complicado. E, mesmo que aprovado este ano, só deve ocorrer no final de 2005.