Título: OCEANOS PODEM DESTRUIR ATÉ 40 PAÍSES
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Fonte: O Globo, 14/12/2004, Ciência e vida, p. 34

O aquecimento global provocado pela emissão excessiva de gases-estufa poderia elevar entre 0,09 e 0,88 metro o nível do mar, até o fim deste século. No mesmo período, a temperatura da Terra aumentaria entre 1,4 e 5,8 graus Celsius. As previsões são do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. Segundo o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, se as previsões estiverem certas, de 30 a 40 países podem, literalmente, sumir do mapa no século XXI.

¿ Digamos que se a metade do que estamos projetando acontecer já será muito grave ¿ afirmou Pachauri, ao GLOBO, durante a 10ª Convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU, em Buenos Aires.

Segundo o presidente do IPCC, que está elaborando seu quarto relatório sobre o impacto do aquecimento global no planeta, a lista de países que correm sério risco de desaparecer inclui, basicamente, pequenas ilhas localizadas no Caribe e no Oceano Pacífico. Outro caso dramático é o de Bangladesh, onde, estima-se, 17 milhões de pessoas vivem menos de um metro acima do nível do mar.

Já no Brasil, explicou Pachauri, ¿as autoridades deveriam preocupar-se pelo abastecimento de água nas grandes cidades, alterações em seu regime de chuvas e mudanças extremas que certamente afetarão os setores mais humildes da população¿.

A comunidade científica internacional acompanha com grande temor o derretimento da cobertura de gelo em regiões do Círculo Polar Ártico, fenômeno que contribui para a elevação do nível do mar. De acordo com o físico argentino Osvaldo Canziani, membro do IPCC, o degelo de zonas árticas ¿ que nos últimos 30 anos perderam pelo menos 8% de sua cobertura de gelo ¿ poderia provocar um aumento de seis metros no nível do mar.

Documentos apresentados na COP-10 sobre o impacto do aquecimento global no Ártico indicaram que, nos últimos 50 anos, durante os meses de inverno, a temperatura no Alasca e no oeste do Canadá aumentou de 3 a 4 graus Celsius. Nos próximos cem anos, num cenário moderado de emissões, a temperatura poderia se elevar de 3 a 5 graus Celsius na terra, e 7 graus no mar.

¿ Quando mencionamos a possibilidade de degelo total do Ártico estamos falando de um cenário extremo, mas que não pode ser descartado ¿ enfatizou Canziani.

Para o cientista, ¿o Ártico está sofrendo um processo de degelo acelerado. Se as projeções mais pessimistas estiverem certas, seriam inundadas pelo mar regiões dos rios Orinoco, Prata e Amazonas, entre outras. Todos os países que têm regiões costeiras baixas seriam afetados. No Uruguai, por exemplo, muitas praias poderiam desaparecer¿.

Na visão dos cientistas do IPCC, o mais importante nos próximos anos é elaborar projetos de adaptação nos países em desenvolvimento, que serão os mais afetados.

¿ Os ricos terão mais recursos para se defenderem, o que mais nos preocupa é a situação dos pobres ¿ insistiu Pachauri.

O processo de intensificação das mudanças climáticas, esclareceu o presidente do IPCC, não será linear. Mudanças inesperadas podem acontecer, alertou, e os países devem estar preparados.