Título: Defesa de réus da Anaconda acredita em punição
Autor: Soraya Aggege e Jorge Henrique Cordeiro
Fonte: O Globo, 17/12/2004, O País, p. 11

Os advogados de parte dos 11 acusados pela Operação Anaconda já dão como certa a condenação dos réus. Em seu voto, a relatora do processo, desembargadora Therezinha Cazerta, estabeleceu que o agente da Polícia Federal César Hermann seria uma espécie de mentor do esquema, do qual participariam os outros dez réus, inclusive o juiz Casem Mazloun. O escritório de Hermann funcionaria, segundo a relatora, como o QG do esquema de venda de sentenças.

¿ Pelo andar da carruagem, a maioria será condenada. A relatora está amarrando todos os réus na cola do Hermann ¿ disse o advogado Laerte Torrens de Macedo, que defende Afonso Passarelli Filho, um dos integrantes da quadrilha, segundo o Ministério Público Federal.

Relatora surpreendeu ao adotar nova estratégia

O julgamento teve início na terça-feira e a previsão era de que continuasse pela madrugada de hoje. A estratégia do Ministério Público Federal, que teria sido adotada pela relatora, surpreendeu alguns advogados.

¿ A desembargadora trocou a figura do mentor da quadrilha, que antes era o juiz João Carlos da Rocha Mattos, para Cesar Hermann. Houve uma inversão da estratégia para poder caracterizar melhor a quadrilha ¿ avaliou a advogada Daniela Pelin, que defende Rocha Mattos.

Segundo os advogados, a relatora chegou a pôr o áudio de gravações de conversas de Hermann com Casem para mostrar a vinculação do grupo.

O advogado Wilson Rogério Martins, que defende o delegado da PF Jorge Luiz Bezerra, também acusado de integrar a quadrilha, se disse decepcionado com o andar do julgamento:

¿ Estou surpreso com essa inversão. Infelizmente, creio que todos serão condenados.

Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o pedido de extensão dos efeitos da decisão que liberou o juiz Ali Mazloum, um dos três juízes federais denunciados pela Operação Anaconda, do julgamento por formação de quadrilha. Com a decisão, o irmão de Ali, Casem Mazloum, o advogado Carlos Alberto da Costa Silva e o empresário Vagner Rocha, continuam réus no julgamento.

Para advogado de Casem, porém, não há surpresas

Embora diversos advogados dos réus avaliassem ontem que eles serão condenados, o advogado de Casem Mazloum, Adriano Salles Vanni, disse que a tese acerca do quartel-general de Hermann está no processo desde o início, e que não há nenhuma surpresa no julgamento.

¿ Quem está entendendo tudo diferente é o STF, que já trancou dois processos, por meio de hábeas-corpus, por causa da inépcia da denúncia do Ministério Público. O STF cumpre a Constituição ¿ disse Vanni.