Título: Número de cirurgias para reduzir estômago aumentou mais de 2.400%
Autor: Luciana Rodrigues e Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 17/12/2004, Economia, p. 25

Os reflexos do aumento de peso na população brasileira, captados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) divulgada ontem, aparecem nos gastos públicos com a saúde. Só o número de gastroplastias, as cirurgias para redução de estômago em pessoas com obesidade mórbida, subiu 2.426% de 1999 a 2004. Em cinco anos, saltaram de 63 para 1.592 casos, e devem fechar o ano, de acordo com as estimativas do Ministério da Saúde, em 1.881 casos. Cada cirurgia custa ao Estado R$ 3.241. Em 2004, o Ministério da Saúde gastou R$ 5,159 milhões até setembro:

¿ Os gastos públicos com as doenças relacionadas à obesidade são, sem dúvida, os maiores do Ministério ¿ disse o diretor de Ciência e Tecnologia da pasta, Reinaldo Guimarães.

Setor açucareiro pressionou contra protocolo da OMS

Entre setembro e outubro, o governo brasileiro assinou o protocolo da Organização Mundial de Saúde (OMS) de uma Estratégia Mundial sobre Regime Alimentar, Atividade Física e Saúde, fechado em maio deste ano na Assembléia Mundial de Saúde. Ao assinar esse protocolo, que teve fortes resistências dos produtores de açúcar, de acordo com Guimarães, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir o consumo do produto. A POF mostrou que a dieta do brasileiro é rica em sacarose. Consomem-se 12,63% de açúcares, contra 10% do limite máximo recomendado pela OMS:

¿ Já conseguimos que a indústria informasse o teor nutricional dos alimentos. E a partir desse protocolo vamos estudar instrumentos mais radicais para chegarmos a patamares adequados ¿ afirmou Leonor Pacheco, da Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde.

Segundo Guimarães, a adoção de medidas mais duras para reduzir o consumo de açúcar enfrentará uma oposição mais forte que a do cigarro. Mas essa ação é necessária, na opinião do professor da USP Carlos Alberto Monteiro. Ele defende mudanças na publicidade de alimentos não saudáveis:

A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo limitou-se a afirmar, em nota, que ¿os desequilíbrios alimentares observados recentemente estão ligados ao balanço energético, ou seja, o quanto se consome e o quanto se gasta de energia. Não se pode esperar que uma pessoa que faça um trabalho que demande força física consuma o mesmo teor de calorias que outra que tenha vida sedentária¿.

A mudança no hábito alimentar aparece nos 94 quilos da empresária Leila El-Khatib que, aos 37 anos, atribui seu excesso de peso ao sedentarismo e à alimentação ruim.

¿ Até meados da década de 90, quando nadava em competições, tinha apenas 55 quilos. Problemas no joelho e em um ombro me afastaram dos esportes e marcaram o início de meus problemas. Meu manequim era 40/42 e hoje é 48/50.

Seu pai, o jordaniano Yahia El-Khatib, de 68 anos, cortou os churrascos duas vezes por semana e perdeu 22 quilos, chegando aos 117. Seu objetivo é ficar com cem quilos.