Título: MEC VAI FECHAR 36 CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 22/12/2004, O País, p. 8

Instituições como UFRJ, USP e Uerj tiveram áreas reprovadas por falta de qualidade e não podem receber novos alunos

Trinta e seis cursos de mestrado e doutorado, alguns deles oferecidos por instituições prestigiadas como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de São Paulo (USP), deverão ser fechados por falta de qualidade. Eles foram reprovados em avaliação do Ministério da Educação (MEC) e, encerrada a fase de recursos, não conseguiram mudar o resultado. Nove ficam no Estado do Rio de Janeiro.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do MEC responsável pela avaliação trienal da pós-graduação brasileira, divulgou ontem a lista dos mestrados e doutorados com notas 1 e 2. Esse resultado leva ao descredenciamento, o que significa que os atuais alunos até poderão concluir o curso. Não poderão ser abertas novas vagas e quem for admitido daqui para a frente não receberá diploma. Ou seja, o curso não poderá continuar funcionando.

Capes reprovou inicialmente 55 mestrados e doutorados

A Capes reprovou inicialmente 55 mestrados e doutorados, mas não divulgou a lista uma vez que havia ainda a possibilidade de recurso e alteração da nota. Foi o que ocorreu com 19 cursos, o equivalente a 34% do total de reprovados na avaliação trienal de 2004, que analisou o período de 2001 a 2003. Após a revisão, eles atingiram pelo menos a nota 3.

¿ Somos cautelosos com o descredenciamento. É uma penalidade muito forte que pode acabar com um programa de pós-graduação. Historicamente é pequeno o número de recursos acolhidos, mas a maior proporção ocorreu nos cursos sob ameaça de descredenciamento. Eles apresentaram recursos e provaram que tinham alguma qualidade que passara despercebida ¿ disse o diretor de Avaliação da Capes, Renato Janine Ribeiro.

Referência não só no Brasil, mas no exterior, o sistema de avaliação da Capes verifica a produção científica dos professores e o fluxo de mestres e doutores formados no período, entre outros itens. A escala vai de 1 a 7, sendo que as notas 6 e 7 são dadas apenas a doutorados de excelência em nível internacional. A última avaliação trienal analisou 2.861 cursos, agrupados em 1.819 programas de pós-graduação.

Dos avaliados, 62 programas obtiveram nota 7 e 145, nota 6. Já 31 ficaram com nota 2 e cinco com 1, totalizando 36 programas reprovados.

A UFRJ teve reprovado o seu mestrado em ortopedia e traumatologia, na área de medicina, que ficou com nota 2. Já a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) recebeu a nota 1 também no mestrado de medicina, na área de nefrologia. Outro mestrado da Uerj, em ciências contábeis, ficou com 2. Assim como a Uerj, a Universidade Santa Úrsula também teve um curso reprovado com 1, a nota mais baixa da escala. Foi o mestrado em educação matemática.

USP foi reprovada em curso de prótese dentária

Segundo Ribeiro, diversas causas podem explicar o fracasso de uma pós-graduação, desde a demissão ou aposentadoria de professores até a falta de tradição de pesquisa na área. Outro motivo é a baixa produtividade. Após a reprovação do curso pela Capes, há instituições que reformulam o programa e pedem nova autorização de funcionamento. Outras simplesmente encerram a atividade.

A USP, a mais conceituada universidade do Brasil, teve seu mestrado e doutorado em prótese dentária, na área de odontologia, reprovado com a nota 2. Ribeiro disse que a USP está ciente de que seus programas de pós-graduação em odontologia são fragmentados e que a instituição já pensa em aproximar os cursos da área.

Os pareceres dos especialistas sobre o desempenho dos cursos avaliados e os motivos de cada resultado serão publicados na internet a partir de 30 de dezembro, na página da Capes (www.capes.gov.br).

Os resultados da avaliação serão agora encaminhados ao Conselho Nacional de Educação (CNE). Segundo Renato Janine Ribeiro, o CNE não costuma alterar nenhuma nota.