Título: COMBUSTÍVEIS E TARIFAS ELEVAM INFLAÇÃO DE 2004
Autor: Ledice Araujo
Fonte: O Globo, 22/12/2004, Economia, p. 31

IPCA-15 fecha o ano com variação de 7,54%. Em dezembro, alta foi de 0,84%, acima da taxa de 0,63% de novembro

A inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) fechou em 7,54% este ano, ficando abaixo dos 9,86% registrados em 2003. Segundo pesquisa do IBGE divulgada ontem, os vilões desta vez foram os combustíveis: a gasolina encareceu 12,09% e o álcool, 30,84% no ano. As tarifas públicas também contribuíram, impulsionadas principalmente pelos reajustes nos preços da telefonia fixa (14,73%) e da energia elétrica (9,66%). A variação de 3,64% dos alimentos foi bem menor do que a do ano passado: 8,57%.

De novembro para dezembro, o IPCA-15 (uma prévia do IPCA, índice usado pelo governo como referência para o sistema de metas de inflação) subiu de 0,63% para 0,84%. A pressão maior partiu da gasolina, que subiu 3,45% para o consumidor, como reflexo do reajuste cobrado pelas refinarias. O álcool também teve forte contribuição para a inflação, com alta de 8,64% entre 12 de novembro e 10 de dezembro, comparado com o período de 14 de outubro a 11 de novembro.

¿ Os preços mais altos dos combustíveis e das tarifas voltaram a pressionar a inflação. Mas seus efeitos tendem a diminuir no próximo mês ¿ explicou o economista João Carlos Gomes, coordenador do Núcleo Econômico da Fecomércio/RJ.

O aumento dos combustíveis respingou nas tarifas de ônibus urbanos, que subiram 1,74%, em média, em quatro regiões do país. Já as contas de telefone fixo tiveram novo reajuste: desta vez, de 1,89%. Com a mudança da estação, os preços do vestuário mudaram de tendência e tiveram variação de 1,13%. Juntos, estes itens responderam por 0,45 ponto percentual do IPCA-15, ou seja, quase a metade da inflação no período.

Núcleo da inflação mais alto pode elevar Selic

As preocupações na nova apuração se concentraram na elevação de 0,62% para 0,68% do núcleo de inflação, que expurga as maiores altas e baixas. Os analistas podem usar este fato como fundamento para mais uma alta da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Copom, em janeiro. Mas, segundo João Carlos Gomes, da Fecomércio/RJ, estas preocupações são exageradas e não devem se sustentar, já que a inflação já dá sinais de arrefecimento para janeiro.

¿ Os efeitos da alta dos combustíveis começam a se diluir, assim como os das tarifas. A questão está agora no impacto dos aumentos dos preços dos alimentos daqui para frente ¿ previu ele.

Na apuração do IPCA-15 de dezembro, o grupo alimentos mudou de trajetória, com a elevação de 0,19% contra a deflaçào de 0,05% em novembro. A causa principal foi o aumento de 3,31% dos preços das carnes. Outros produtos que influenciaram a alta foram os cigarros, com preços 2,71% mais altos; consertos de automóveis (2,16%); ônibus intermunicipais (1,59%); empregado doméstico (1,13%); e gás de cozinha (1,03%).

Otimista com a desaceleração, o economista da Fecomércio/RJ acredita que o IPCA de dezembro ficará pouco abaixo do 0,84% (entre 0,80% e 0,83%) e, com isto, o ano fechará em 7,5%, ou seja, abaixo do teto da meta de inflação acertada com o FMI, que é de 8%.

De acordo com o IBGE, o consumidor de Belo Horizonte foi o que teve maior índice de inflação no mês (1,51%). Entre as sete regiões pesquisadas, o Rio de Janeiro se destacou como a segunda mais baixa: 0,69%.