Título: A escolha do PT
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 23/12/2004, Panorama Político, p. 2

No segundo dia do conclave petista para ungir o novo presidente da Câmara a portas fechadas, saiu fumaça na chaminé. Branca, imediatamente turvou-se no céu das incertezas sobre a aceitação, fora do partido, do nome inatacável do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. Na planície do baixo clero, ele é tido como esnobe e elitista. Para a direita ruralista, é um esquerdista.

Conhecedor dos humores da Casa, ontem mesmo, ao saber da escolha do PT, o deputado José Carlos Aleluia lançou-se como candidato ¿avulso¿. Ele é do PFL, terceiro partido da Casa, embora o regimento reserve a presidência ao maior partido, o PT, que no passado também ignorava a tradição e lançava candidatos próprios. Nem poderá reclamar.

Ao escolher Greenhalgh, o PT e o governo deram prioridade à biografia, àquilo que os políticos chamam de estatura, um atributo que mistura preparo intelectual, trajetória política e postura pessoal. Greenhalgh tira dez nesta prova: advogado brilhante, defensor de perseguidos e presos na ditadura militar, militante histórico na causa dos direitos humanos, circunspecto e bem articulado, teve ainda uma louvada passagem pela presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Nem se poderá dizer dele o que se dizia do líder Luizinho: na presidência, seria um pau mandado do Planalto. Greenhalgh vive dando demonstrações de sua independência em relação ao governo Lula.

Mas logo que a escolha de seu nome circulou na Câmara, ouviram-se restrições fora do PT. Pedro Novais, sexto mandato, um dos deputados mais antigos na Casa, avisou.

¿ Muito preparado, mas tem um defeito. Não cumprimenta a gente. Deputado não vota em quem não lhe dirige a palavra.

Novais reflete o sentimento do chamado ¿vale de los caídos¿, habitado pela grande massa de deputados que não integra a chamada elite parlamentar mas não aceita cabresto em questões corporativas.

Entre os ruralistas, foi forte a reação. Abelardo Lupion, em nome da turma, avisava que nele não votam. É advogado dos sem-terra, anda de braços dados com Rainha e João Pedro Stédile.

Em matéria de trânsito parlamentar, Virgílio Guimarães e Arlindo Chinaglia seriam candidatos mais fáceis. O primeiro é popular, transita bem entre ruralistas, os evangélicos e o baixo clero em geral. O segundo é mais reservado, mas muito afável. Mas a ambos, faltou voto e o empurrãozinho do Planalto. José Genoino, no papel de camerlengo (o interino até a escolha do novo papa), agiu em sintonia com Lula e a favor de Greenhalgh.

Pesou ainda a opção da esquerda petista, depois da desistência de seu candidato, Walter Pinheiro, por Greenhalgh, invocando ¿afinidades históricas¿. As mesmas afinidades que o tornam refratário à direita parlamentar. Emplacar seu nome no plenário dará trabalho. João Paulo, atual presidente, preferiu agir como magistrado, não explicitando sua preferência, que seria por Virgílio. Terá agora que fazer uso de seu prestígio interno para ajudar o candidato petista.

Aleluia não perdeu um minuto, anunciando ontem mesmo sua candidatura alternativa. Ela atende à oposição, aos que apreciam a camaradagem e aos que preferem um nome mais conservador. Mas sua bandeira é corporativa e não ideológica. Fala em valorização do trabalho parlamentar.

Partilha amigável

No Senado, os arranjos para a composição da nova Mesa avançam com os sinos de Natal. Removidos os obstáculos à eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência, está praticamente certa a indicação do senador petista Tião Viana (PT-AC) para a primeira vice-presidência. Os tucanos terão dois cargos, um deles a segunda vice-presidência, para os quais dispõe de três nomes: Álvaro Dias (PR), Antero Paes de Barros (MT) e Siqueira Campos (TO). O PFL também indicará Edison Lobão (MA) e Paulo Octávio (DF) para os dois cargos a que terá direito. Um deles, a influente primeira-secretaria. Estes são dois pefelistas amigos do Planalto. O senador Antonio Carlos Magalhães presidirá a Comissão de Assuntos Econômicos ou a de Constituição e Justiça.