Título: MAIS UMA DROGA SOB SUSPEITA DE RISCO CARDÍACO
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Fonte: O Globo, 22/12/2004, O Mundo, p. 38

O antiinflamatório Aleve aumentaria em até 50% a chance de problemas cardiovasculares, segundo a FDA

NOVA YORK. Um novo estudo revelou que o Aleve, um popular antiinflamatório da Bayer vendido sem receita médica nos Estados Unidos, pode aumentar o risco de problemas cardiovasculares. Autoridades da Administração de Drogas e Alimentos (FDA, na sigla em inglês) afirmaram ontem que os pacientes não devem exceder a dose recomendada do medicamento, de 400 miligramas por dia, nem tomar a droga por mais de dez dias sem recomendação médica. O princípio ativo da droga é o naproxeno, também presente nos remédios comercializados no Brasil como Flanax e Naprosyn, ambos da Roche.

¿Estamos de acordo com a recomendação da FDA de que os consumidores devem seguir com atenção as instruções contidas na bula¿, disse, num comunicado, o gerente de comunicação empresarial da Bayer no Brasil, Eckart-Michael Pohl, lembrando, entretanto, que o caso está sendo ainda investigado pela empresa.

Trata-se do quarto medicamento a ser colocado sob suspeita de aumentar os riscos de problemas cardiovasculares nos últimos meses. O Vioxx, da Merck, foi retirado do mercado pelo próprio laboratório. Seu principal concorrente, o Celebrex (vendido no Brasil como Celebra), da Pfizer, também foi colocado sob suspeita de aumentar o risco de problemas cardiovasculares em doses elevadas. Um outro estudo apontou ainda que o Bextra, também da Pfizer, aumentaria as chances de desenvolvimento de problemas cardíacos em pessoas submetidas a cirurgias no coração.

O estudo que apontou os riscos do Aleve foi financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA e tinha como objetivo testar se a droga e também o Celebrex seriam eficazes na prevenção do mal de Alzheimer. Participaram da pesquisa 2.500 pacientes. Os que tomaram Aleve apresentaram um risco 50% maior, de acordo com o ¿New York Times¿, de apresentar ataques cardíacos e derrames do que os que receberam placebo (substância inócua). Os que tomaram Celebrex não apresentaram aumento do risco.

Na última sexta-feira, um estudo feito com pacientes de câncer apontara um aumento de até 240% no risco de problemas cardíacos entre os que tomavam doses muito altas (acima de 400 miligramas por dia) de Celebrex. A publicidade do remédio está suspensa desde domingo a pedido da FDA. Em nota divulgada ontem, a Pfizer afirmou: ¿O Celebra permanece sendo uma dessas opções (de tratamento) para osteoartrite, artrite reumatóide e dor aguda e, de acordo com as boas práticas médicas, deve ser administrado na menor dose efetiva possível para os pacientes adequados.¿

Ao comentar os resultados do novo estudo, o diretor do Centro de Avaliação de Remédios e Pesquisa da FDA, Steven Galson, afirmou:

¿ Isso mostra que todas as drogas apresentam riscos e devem ser tomadas com cuidado.

Há ainda um problema de mercado envolvendo os remédios. Nos EUA, o naproxeno sódico é fabricado e vendido pela Roche e pela Bayer. Mas, em 1º de janeiro, essa divisão da Roche deve passar às mãos da Bayer e, com ela, a responsabilidade pelo remédio em todas as suas apresentações, no mundo inteiro.