Título: Era sonho, virou obra
Autor: Rosinha Matheus
Fonte: O Globo, 23/12/2004, Opinião, p. 7

O momento aconselha reflexões, sugere a realização de uma espécie de balanço, com o registro de perdas e ganhos no curso do ano. Desse mergulho na consciência, aconselhado pela proximidade das festas de fim de ano, emergem fatos, realizações, alguns equívocos e uma certeza inabalável: a de que dediquei tempo, energia e vigor para, em síntese, melhorar a vida de cariocas e fluminenses. Houve tropeços, escorregões, avaliações imprecisas, mas não tenho dúvidas em asseverar que prevaleceram os acertos, os avanços, concretos e incontrastáveis.

Muitas dessas conquistas surgiram como sonhos, aspirações quase utópicas. Mas, como ensina o poeta Fernando Pessoa, quando Deus quer e o homem sonha, a obra nasce. Em 2004, alguns sonhos foram materializados ou estão muito próximos disso. A luta pela construção de uma refinaria, por exemplo, foi a nossa principal bandeira de governo. Desfraldamo-la sob o ceticismo daqueles que viam nessa iniciativa apenas um devaneio distante e intocável. Hoje, a Petrobras reconhece a importância e a procedência de nossa postulação e anuncia a construção de sua próxima refinaria em solo fluminense. Eis um rematado exemplo de que a realidade pode ser esculpida com trabalho e iniciativas a partir de um sonho ¿ síntese do interesse coletivo.

A despeito do desalento de uns poucos, 2004 foi auspicioso, repleto de boas novas. Apenas no primeiro semestre, atraímos US$ 6,8 bilhões em investimentos. Nossas exportações bateram recorde, chegando a US$ 5,39 bilhões. Uma penca de empresas apresentou plano de investimentos no estado, graças aos incentivos que concedemos. A alemã Thyssen vai construir um das mais modernas siderúrgicas do mundo em Itaguaí, investimento de US$ 1,5 bilhão. O grupo Gerdau vai aumentar a capacidade de produção da Cosigua em 20% e construir mais uma usina no estado. A previsão é que a produção de aço pule de seis milhões de toneladas/ano para 18 milhões. Um salto estratégico para garantir um crescimento sólido, duradouro e sustentado e transformar o Estado do Rio no maior pólo siderúrgico da América Latina.

A indústria naval é um capítulo à parte no processo de desenvolvimento. Em 1999, apresentava-se em frangalhos: empregava apenas 500 operários. Em 2004, 30 mil trabalhadores em 18 estaleiros, instalados, reabertos ou revigorados com o apoio do governo, dedicaram-se à construção de petroleiros e plataformas. A P-51, por exemplo, só foi construída aqui porque concedemos incentivos fiscais de US$ 150 milhões. A pujança do setor naval guarda relação direta com a política de desoneração da cadeia produtiva adotada pelo governo.

Nosso crescimento obedece a um plano estratégico, em que a geração de energia tem papel estruturante. Em 2004, tornamo-nos auto-suficientes e em 2005 teremos um excedente exportável de 20%. Em março, materializa-se outro antigo anseio da sociedade fluminense: o pólo gás-químico de Duque de Caxias. Com investimentos de US$ 1,2 bilhão, a Rio Polímeros vai produzir polietileno a partir de gás natural.

O pólo metal-mecânico do Sul fluminense exibe vigor incomparável. A Peugeot-Citroën produzirá em 2005 80 mil veículos, dos quais 20% para exportação. A fábrica da Volkswagen produzirá este ano 44 mil caminhões e ônibus e tem planos para dobrar a produção. São exemplos afirmativos do acerto da política de desenvolvimento.

Esse trabalho, contudo, não teria sentido se não resultasse em benefícios diretos para os cidadãos fluminenses. Buscamos o desenvolvimento com a certeza de que por meio dele promoveremos distribuição de renda, geração de empregos, salários mais justos e política social sólida. Esse é o conceito fundamental de nosso governo.

Há indicadores em profusão que permitem crer no acerto de rumos: o Rio tem o menor índice de desemprego do país; a segunda renda per capita (ultrapassou a de São Paulo); o maior piso salarial; e uma abrangente rede de proteção social que beneficia um milhão de cidadãos ¿ brasileiros deserdados socialmente pelos equívocos recorrentes da política econômica do país.

As evidências, contudo, não bastam para convencer a todos. Por motivação política ou reles idiossincrasias, alguns preferem brigar contra fatos e notícias. Olham para os resultados da ação social e preferem enxergar populismo. Olham para o crescimento econômico e o chamam de episódico. Olham para o aumento da renda per capita e preferem adivinhar que o futuro não será tão bom. Fazem das estatísticas a leitura que convém aos seus interesses.

Acredito que a realidade acabará por se impor. Acredito nos meus sonhos. Confio num 2005 mais feliz para os cidadãos fluminenses. Contra o pessimismo, ofereço trabalho, esforço, uma inarredável vontade de acertar e um ensinamento de Shakespeare: ¿O passado e o futuro nos parecem sempre melhores; o presente, sempre pior.¿ Rosinha Matheus é governadora do Estado do Rio de Janeiro.