Título: PT escolhe Greenhalgh para presidir a Câmara
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 23/12/2004, O País, p. 8

Depois de dois dias de reuniões e acaloradas discussões internas, a bancada do PT indicou, por aclamação, ontem à tarde o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) como candidato de consenso do partido para suceder o atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) no biênio 2005-2006. O presidente do PT, José Genoino, chorou ao agradecer a generosidade dos demais candidatos ¿ entre eles, os paulistas Professor Luizinho e Arlindo Chinaglia e o mineiro Virgílio Guimarães ¿ que abriram mão da disputa em favor da unidade do partido, levando muitos colegas também às lágrimas.

Mesmo tendo assumido compromissos com a esquerda do PT de manter autonomia em relação ao Palácio do Planalto, Greenhalgh reforçou o vínculo com o governo federal.

¿ Sou amigo do presidente Lula. Trabalhei 25 anos para que ele chegasse ao Planalto. Não serei empecilho ao governo ¿ anunciou Greenhalgh, logo depois de ser aplaudido de pé pela bancada petista.

Embora ele tenha conseguido o que parecia quase impossível, unir os petistas, seu nome deverá sofrer resistências em outras bancadas, especialmente, a ruralista. Isso porque o deputado foi advogado de um dos principais líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), José Rainha. Ciente disso, ele procurou o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO) para saber se a informação procedia. Apesar da negativa de Caiado, setores da oposição acreditam que a ligação de Greenhalgh com o MST poderá alavancar a campanha de um candidato alternativo como a de José Carlos Aleluia (PFL-BA), que oficializou ontem sua candidatura.

O primeiro passo em favor da unidade do partido foi dado pelo líder do governo, Professor Luizinho, que decidiu retirar sua candidatura na terça-feira à noite, durante reunião na casa de João Paulo, horas depois de ter sido o segundo mais votado na primeira reunião da bancada petista para escolher seu candidato. O nome de Greenhalgh, no entanto, só deslanchou ontem pela manhã, depois de o Campo Majoritário ¿ tendência do PT que reúne 50 deputados e é ligada ao governo ¿ referendá-lo. Em votação interna, ele teria obtido cerca de 30 votos, Luizinho, 13 e Virgílio, quatro.

Ao tomar conhecimento do resultado da votação, Chinaglia imediatamente retirou sua candidatura. Depois de passar a manhã reunido com Luizinho, Virgílio foi conversar com João Paulo, principal patrocinador de sua candidatura. Sem alternativa, ele acabou divulgando uma carta retirando seu nome da disputa e desejando êxito ao colega Greenhalgh, que contou também com o apoio da esquerda petista.

¿ A opção do Campo Majoritário foi por um nome que pudesse unificar o partido ¿ anunciou Luizinho.

Uma das preocupações ontem do PT e, sobretudo, do Planalto era impedir uma nova votação na bancada que evidenciasse uma divisão interna, o que enfraqueceria a legenda na disputa pelo comando da Câmara, abrindo espaço para a oposição. Embalado pela unidade petista, Greenhalgh planeja começar sua campanha já na próxima semana. Sua meta é conversar com cada um de seus 512 colegas.

¿ Esse é o processo do PT, a nossa trajetória, o nosso caminho. Discutir, discutir e discutir. E ir afunilando até que saia, como em Roma, uma fumaça branca. Quero dizer que muitas vezes recebi mandatos, mas este é o mais importante de minha vida. Vou dar de mim o máximo ¿ prometeu Greenhalgh, aplaudido de pé pela bancada.

O Palácio do Planalto também deverá se mobilizar para ajudar na eleição de Greenhalgh no dia 15 de fevereiro próximo. O líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR), foi chamado ontem, mas não quis adiantar seu apoio explícito, com o argumento de que essa era uma decisão colegiada e, por isso, teria de consultar a bancada. Mas como o PT no Senado já manifestou intenção de apoiar qualquer indicação do PMDB para a presidência da Casa, a retribuição desse apoio na Câmara é considerado natural.