Título: Estrangeiros demonstram apetite
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 23/12/2004, Economia, p. 29

Os investimentos diretos estrangeiros (IDE) no Brasil devem somar US$ 17 bilhões este ano, um salto de 70% sobre os ingressos de 2003, de US$ 10,1 bilhões. Esta é a nova estimativa da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). A projeção anterior para os investimentos diretos era de US$ 15 bilhões, mas foi revista em função do aumento dos fluxos de investimentos em novembro e nas primeiras semanas deste mês.

Até o mês passado, o saldo dessas aplicações ainda estava na casa dos US$ 15 bilhões. A Sobeet elevou também sua projeção para os investimentos estrangeiros em 2005, de US$ 15 bilhões para US$ 18 bilhões.

¿ Além das condições macroeconômicas mais favoráveis, o avanço na regulamentação de setores chave da economia, especialmente na área de infra-estrutura, a aprovação das Parcerias Público-Privadas (PPPs) e a continuidade do crescimento industrial devem manter o Brasil entre os países que mais recebem IDE ¿ disse o presidente da Sobeet, Antônio Corrêa de Lacerda.

Para o economista, o Brasil deve continuar no segundo lugar entre os países emergentes que mais recebem investimentos diretos do exterior. Só atrás da China, que em 2005 deve receber cerca de US$ 55 bilhões.

Maior parte de estrangeiros virá por fusões e aquisições

Segundo Lacerda, de 70% a 80% dos novos investimentos devem ingressar no país por meio de operações de fusão e aquisição de empresas. Entre os setores mais atraentes, o economista cita os que se encontram mais próximos do limite da capacidade de produção, como os de autopeças, papel e celulose, siderurgia e telefonia móvel.

Lacerda ressaltou, contudo, que o aumento dos IDEs é insuficiente para que o país consiga sustentar as atuais taxas de expansão de sua economia a partir de 2006.

¿ Os IDEs têm papel complementar, não são um elemento dinamizador. Internacionalmente, os IDEs representam de 5% a 10% dos investimentos totais demandados. Por isso é necessário que haja um movimento forte de investimentos locais, inclusive com aumento da participação do setor público ¿ disse o economista, lembrando que, dos R$ 12 bilhões em investimento reservados pelo governo no orçamento deste ano, pouco mais de R$ 3 bilhões efetivamente foram desembolsados.

Para ter maior folga na área fiscal e investir mais no próximo ano, a Sobeet espera que o governo não só interrompa como inverta a escalada de alta da taxa básica de juros (Selic). A entidade prevê que a Selic ¿ atualmente em 17,75% ao ano ¿ recue drasticamente, para 14% em dezembro de 2005.