Título: Acreditar e acertar
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 28/12/2004, Panorama Política, p. 2

Há um Brasil otimista, acreditando que a vida vai melhorar em 2005 e satisfeito com Lula, dando-lhe 45% de aprovação, como na última pesquisa Datafolha. Há um Brasil cético, descrente de tudo, até deste crescimento animador, apostando que é uma bolha. E há também, na definição de Chico Buarque, um Brasil cínico, seguidor da lei de Gérson: já que nada muda, cada um se locuplete e que se dane o resto.

Mas os otimistas predominam, dizem as pesquisas sobre as expectativas de melhora da vida em 2005. O comércio verifica isso, com o maior aumento de vendas desde 1996. No governo, todos parecem atender ao chamado de Lula, externando uma quase euforia em relação ao ano que vem. Foi basicamente este o sentido da fala do presidente ontem em seu programa de rádio. Anunciou mais crescimento, geração de emprego e distribuição de renda, embora as ações do governo, com vistas ao último objetivo, estejam restritas às políticas compensatórias, tipo Bolsa Família. É preciso muito mais que isso para reduzir a desigualdade. Os do governo contestariam, apontando outros programas sociais, como a polêmica política de cotas ou o ProUni, que de fato abre para os mais pobres a porta do ensino superior. Mas tudo isso ainda é pouco. A cobrança maior, em todas as pesquisas, é por emprego. Com ele vêm a renda e as oportunidades de ascensão e mudança de vida.

Mas além de pedir otimismo pelo menos igual ao dele, Lula afirmou que tudo tem saído como esperou - embora não esteja saindo como a maioria esperava . Segundo o Datafolha, 49% acham que ele está fazendo pelo país menos do que esperavam. Para 29%, tudo está saindo como esperavam e para 19%, Lula foi além do esperado.

Estes números apontam um déficit para o governo, que tem em 2005 uma oportunidade para reduzi-lo, já que zerá-lo é impossível, diante do caudal das esperanças despertadas com a eleição de 2002. Na fala, Lula estabeleceu que ele e seu governo não podem errar em 2005.

Não podem, de fato. As previsões econômicas não se realizam sozinhas. O crescimento depende da expansão da infra-estrutura. O Congresso deu ao governo o instrumento pedido, as PPPs. A oposição, através do PSDB e do PFL, contribuiu para que o projeto fosse aprimorado. Fazer com que ele dê resultados agora é tarefa do governo. Há incertezas regulatórias, sobretudo em saneamento, área em que a demanda acumulou-se tanto nos últimos anos, atingindo principalmente os mais pobres, os que vivem sem água e esgoto. As ambivalências internas no governo persistem e quando afloram, geram dúvidas. Na área política, perdeu-se muito da coesão parlamentar, ainda que os resultados neste final de ano tenham sido muito bons, com a aprovação de quase tudo o que estava pendente.

Lula e o governo não podem errar, mas não por eles, pensando em seus projetos eleitorais. Precisam acertar para que o país não perca esta visita das boas condições econômicas e das boas condições subjetivas, representadas pelo otimismo, pela crença de que, apesar dos céticos, ainda é possível ir mudando, ainda que "sem precipitações".

Greenhalgh em campanha

Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato do PT a presidente da Câmara, está em campo trabalhando para assegurar apoios e vencer resistências a seu nome. Já esteve com o presidente do PSDB, José Serra, que deu como certo o apoio de seu partido. Os dois têm origens comuns. Quando dirigentes do movimento estudantil, tiveram uma mesma protetora, a madre Cristina Sodré Dória. O deputado Aloysio Nunes Ferreira, que será secretário de Serra, disse-lhe que pedirá exoneração no dia da eleição para, como deputado, votar nele. Hoje o candidato procura o líder tucano Custódio Mattos e o deputado Jutahy Júnior.

- No primeiro momento eu me concentrei mesmo em viabilizar meu nome na bancada do PT. Mas já estou procurando todos os partidos, aliados ou não, para me apresentar como candidato a presidente da Câmara, vale dizer, de todos os deputados - diz Greenhalgh.

Ele já esteve com Pedro Henry, do PP, Renato Casagrande, do PSB, e Sandro Mabel, do PL. Hoje procura os peemedebistas - o líder José Borba e o ministro Eunício. Reúne-se, ainda hoje, com os seis petistas preteridos para incorporá-los a sua campanha. Mas faltam os mais resistentes, os ruralistas e os evangélicos. Também serão procurados, diz o candidato, proclamando-se disposto a enfrentar e vencer as dificuldades.

É TERRÍVEL a tragédia asiática, causada pelas forças brutas da natureza. O Itamaraty ainda estudava ontem as formas de ajuda que o Brasil pode prestar aos povos atingidos. Aos que queiram fazer alguma doação, a embaixada do Sri Lanka, país mais atingido, que perdeu mais de dez mil de seus filhos, abriu uma conta para o Fundo de Ajuda. Banco do Brasil, agência 1606-3, conta 46034-6.

A PARTIR DE AMANHÃ estarei de recesso e a seguir de férias até o dia 17 de janeiro. Ilimar Franco, muito mais divertido do que eu, fica com os leitores até lá. Roubo da política, que já está sem assunto mesmo, o finalzinho da última coluna do ano para compartilhar com vocês este gracioso poema de Mario Quintana, "Esperança", sobre o recomeço anual que nos faz esquecer as quedas e seguir em frente: "Lá bem no alto,/no décimo segundo andar do ano/Vive uma louca chamada Esperança. /E ela pensa que quando todas as sirenas,/todas as buzinas;/todos os reco-recos tocarem;/Atira-se./E oh!... delicioso vôo!/ Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada./Outra vez criança... /E em torno dela indagará o povo:/ Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?/ E ela lhes dirá: (é preciso dizer-lhes tudo de novo!)./ Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não se esqueçam:?/ O meu nome é Es-pe-ran-ça...". Feliz Ano Novo aos leitores, amigos e colaboradores do Panorama Político.