Título: REAÇÃO DO VAREJO
Autor:
Fonte: O Globo, 28/12/2004, Economia, p. 17
Ano Novo, preço novo
2005 começa com queda-de-braço entre comércio e indústria de eletrodomésticos
Depois do bom desempenho em 2004, com um crescimento estimado de 20% nas vendas, os fabricantes de eletroeletrônicos vão começar o Ano Novo com uma notícia ruim: as siderúrgicas já avisaram que vão reajustar outra vez suas tabelas em 10% na média. O repasse disso para o consumidor ainda é uma incógnita. Segundo um executivo do setor, vai depender essencialmente do ritmo de encomendas em janeiro, época de tradicional queima de estoques e liquidações no comércio. Mas redes de varejo já se preparam para uma nova queda-de-braço com a indústria. Os fornecedores tentam emplacar reajustes na tabela entre 5% e 10%. Os percentuais mais altos estão concentrados na chamada linha branca (geladeira, fogão, freezer), produtos mais intensivos no uso do aço, insumo que já subiu 57,12% este ano, segundo o Índice de Preços por Atacado (IPA) medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
- Ao longo do ano seguramos os reajustes. Mas há um limite. Mesmo assim, qualquer que seja o aumento negociado, repassaremos a metade - afirmou Carlos Alberto Pereira, diretor da rede de lojas Tele-Rio.
Reajustes chegam a 14,45% em um ano
Um levantamento feito pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) mostra que o aço foi o componente que registrou a maior variação de preços em 2004. Na média, os aumentos chegaram a 65% até novembro, segundo os números da indústria que captaram altas acima das observadas pela FGV. Componentes plásticos e arames também pesaram mais na composição dos custos de produtos - com altas de 52% e 54%, respectivamente, ao longo do ano.
- As negociações variaram conforme o insumo. No caso do aço, tivemos dificuldade de negociar com os fornecedores e, ao final, constituímos um grupo conjunto de trabalho para tentar chegar a um consenso - afirmou o presidente da Eletros, Paulo Saab.
Segundo a Eletros, as empresas não conseguiram repassar todo o aumento de custos para o produto final vendido ao varejo. E o repasse também ficou represado no comércio. Enquanto o aço subiu mais de 50%, o grupo eletrodomésticos e equipamentos teve variação média de 9,55% de dezembro de 2003 a novembro deste ano dentro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, que teve alta de 7,24% no período. As maiores altas aconteceram em geladeira (9%), fogão (9,56%), freezer (14,45%) e máquina de lavar (10,35%).
- O setor só conseguiu manter a operação graças aos ganhos de produtividade, pois a variação acumulada dos preços de 2001 para cá é negativa - reclamou Saab, sem dizer qual o índice de defasagem nos preços estimada pelas empresas.
Segundo Pereira, da Tele-Rio, apesar de as vendas terem crescido 15% este ano - a maior alta nos últimos dez anos - o que vai ditar o ritmo da negociação será o movimento do início do ano e até a temperatura:
- Sabemos que há uma limitação de gastos pelo consumidor, mas se tivermos um verão intenso, com temperaturas entre 38 e 40 graus, produtos como geladeira, ar-condicionado e ventiladores começam a sair mais, no lugar dos DVDs e televisões, os mais vendidos este ano - afirma o diretor.
Vendas crescem 20% no Ponto Frio
No Ponto Frio, novas tabelas ainda não chegaram às mesas dos compradores. Segundo o diretor Conrado Gruenbaum, os preços são os de novembro. A discussão vai começar na segunda quinzena de janeiro:
- Estamos fazendo pequenas reposições. Ainda temos que rearrumar o depósito para planejarmos as grandes compras. Essa negociação dependerá do movimento em janeiro. Se as vendas se mantiveram aquecidas, é possível que novas tabelas de preços cheguem.
Nas lojas do Ponto Frio, as vendas aumentaram 20% em relação a 2003, uma taxa alta, mas que foi inflada pelo fraco desempenho do ano passado, segundo Gruenbaum.
VENDAS EM SHOPPINGS SÃO AS MELHORES DESDE 96, na página 18
INCLUI QUADRO: OS REAJUSTES DOS PRODUTOS