Título: UCRÂNIA: PREMIER SE RECUSA A ADMITIR DERROTA
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Fonte: O Globo, 28/12/2004, O Mundo, p. 26

Com quase todas as urnas apuradas e indicando vitória de Yushchenko, Yanukovich promete processo para anular pleito

KIEV. Com quase todos os votos apurados, o primeiro-ministro da Ucrânia, Viktor Yanukovich, recusou-se ontem a reconhecer a derrota para o candidato da oposição, Viktor Yushchenko, no novo segundo turno feito no domingo e considerado por países ocidentais uma votação histórica. Yanukovich - que vencera o segundo turno realizado em 21 de novembro e anulado por denúncias de fraude - prometeu uma batalha judicial.

- Nunca vou reconhecer tal derrota porque a Constituição e os direitos humanos foram violados - declarou.

Com 99,9% dos votos apurados, Yushchenko tinha 52,01% contra 44,18% do primeiro-ministro. Desta vez, a votação transcorreu sem incidentes, segundo os 12 mil observadores internacionais que acompanharam o pleito. Yanukovich, no entanto, contesta os dados:

- Meu pedido à Suprema Corte será para examinar a votação e anular seu resultado.

O candidato apoiado pela Rússia disse que 4,8 milhões de idosos ou doentes não puderam votar devido a uma emenda na lei eleitoral que restringia o voto domiciliar. A medida, no entanto, fora anulada pela Corte constitucional na véspera do pleito.

Ela havia sido aprovada pelo Parlamento no dia 8 de dezembro, em meio a um pacote destinado a evitar irregularidades, como ocorreu no segundo turno anulado.

Ministro dos Transportes é encontrado morto em casa

A queixa de Yanukovich contrasta com elogios enviados por países como EUA e Grã-Bretanha e com as observações da Organização para a Segurança e a Cooperação da Europa (OSCE), que afirmou que a votação foi "um passo à frente".

- Foi mais transparente e honesta. Não quero dizer que foi perfeita, porque não foi. Há numerosas denúncias de irregularidades. Mas acusar é uma coisa e provar é outra - disse o chefe da missão da OSCE, Bruce George, referindo-se às cinco mil denúncias apresentadas pela equipe de Yanukovich.

Mesmo antes do anúncio oficial da vitória, Yushchenko já recebia mensagens de felicitação dos governos de Polônia, Estônia e Letônia. Na véspera, pesquisas de boca de urna indicavam a sua vitória, embora com uma diferença maior do que os 8% registrados.

- O povo provou seu poder, rebelando-se contra o regime mais cínico da Europa Oriental - disse o candidato, que, no entanto, pediu a seguidores para manter a mobilização na Praça da Independência, em Kiev, até o anúncio oficial.

A favor de uma aproximação com a Europa, o candidato ficou conhecido no exterior por ter o rosto desfigurado após um envenenamento por dioxina, durante a campanha presidencial.

Num acontecimento que ainda não se sabe se está relacionado à política, o ministro dos Transportes da Ucrânia e um dos maiores empresários do país, Heorhiy Kyrpa, foi encontrado morto por tiros em sua casa em Kiev. Uma arma foi encontrada próxima ao corpo, segundo a TV ucraniana. Não está claro se Kyrpa se suicidou ou se foi assassinado.