Título: BC: país crescerá 4% em 2005
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 29/12/2004, Economia, p. 19

Banco prevê expansão de 5% em 2004 e aposta em inflação menor no próximo ano

Ao fazer suas previsões para 2005, o Banco Central espera inflação menor e crescimento econômico maior: de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), ou cerca de meio ponto percentual acima das estimativas do mercado. Segundo economistas, no esperado espetáculo do crescimento, a inflação - que fez a taxa básica de juros passar de 16% em setembro de 2004 para 17,75% este mês - continuará sendo a grande preocupação. O BC reduziu ontem de 5,6% para 5,3% a sua projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o ano que vem. Apesar da redução, essa estimativa ainda está acima da meta do BC, de 5,1%, o que indica a permanência dos juros altos. Isso porque os cálculos do BC consideram a taxa de juros estável em 17,75% ao ano e o dólar cotado a R$2,75. Para 2004, a previsão de crescimento da economia brasileira passou dos 4,4% calculados em setembro último para 5%.

Segundo o BC, em 2004 o governo cumprirá a meta de inflação depois de três anos de fracassos. O IPCA deste ano deverá ficar em 7,4%, próximo ao teto da meta, de 8%. Para 2006, a previsão do índice é de 4%, abaixo da meta central de 4,5%, cujo teto é 7%.

Setor ligado à renda puxará expansão

Para o BC, apesar da expectativa de crescimento maior no ano que vem em relação às projeções do mercado - alta do PIB de 3,5% a 3,8% - um avanço acentuado poderá atrapalhar o cumprimento da meta de inflação de 2005 (5,1%). A partir deste ano, a preocupação do BC é o aumento do consumo, que pode não ser acompanhado de novos investimentos nas empresas. O receio é de que não haja expansão da capacidade de produção, causando reajuste dos preços.

- Os riscos para as projeções estão na incerteza do nível de capacidade instalada nas empresas, nas expectativas de inflação, na alta volatilidade do mercado de petróleo e nos repasses de preços do atacado para o consumidor - disse o diretor de Política Monetária do BC, Afonso Bevilaqua.

Segundo ele, a economia brasileira poderá apresentar este ano o melhor desempenho desde os 5,85% de crescimento do PIB registrados em 1994, ano do lançamento do Plano Real. Mas o ritmo em 2005 será menos acentuado.

- Em 2005, os setores cujas vendas dependem mais de renda estarão ocupando o lugar de segmentos mais sensíveis ao crédito no crescimento da economia - afirmou o diretor do Banco Central.

A despeito da estabilidade de preços e do crescimento do PIB, Bevilaqua afirmou que persistem as pressões inflacionárias. Ainda assim, o BC manterá inalteradas as metas de inflação para os próximos anos. Ou seja, os juros deverão ficar altos por mais tempo. Bevilaqua lembrou que, em 2002 e 2003, os preços subiram com os efeitos da desvalorização do real.

Lula não vê espaço para crise em 2005

Também fica clara no relatório trimestral do BC a tendência de afastamento das metas de inflação do governo (5,1% em 2005 e 4,5% em 2006), quando o BC realiza simulações com números de mercado. Os analistas trabalham com juros de 15,75% ao ano e aumento do dólar para R$2,99 no último trimestre do ano que vem. Nessa situação, o BC calcula que o IPCA poderá atingir 6,3% em 2005 (próximo do teto de 7% da meta) e 5% no ano seguinte, cujo limite da meta é de 6,5%.

- A persistência inflacionária pode ser vista nos índices ao consumidor, nos núcleos (que descontam as maiores altas e baixas de preços) e na rigidez das expectativas. A postura mais ativa da política monetária desde setembro terá um papel importante na queda das expectativas de inflação - disse Bevilaqua.

Ele destacou que a melhora na projeção de inflação em 2005 já se deve à elevação dos juros, à valorização do real frente ao dólar no segundo semestre de 2004 e à queda na previsão de reajuste de tarifas (energia elétrica, telefonia, gasolina). Segundo analistas de mercado, os preços administrados devem consumir pelo menos dois pontos percentuais da meta de 5,1% fixada para o próximo ano.

Durante a cerimônia de posse de dois novos membros do Conselho da República, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou que, em 2005, não haverá espaço para crise e será um ano em que vai se consolidar o otimismo com a retomada do desenvolvimento econômico no país. Lula afirmou que, em 2004, foram superadas todas as expectativas sobre o desempenho da economia. Para ele, o ano de 2005 será muito melhor.

- Não há espaço para crise em 2005 - disse Lula. - E que seja um ano que possa marcar a passagem de vocês pela Terra.