Título: Em situação mais confortável, os reeleitos querem investir no social
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 01/01/2005, O País, p. 4

O negócio é continuar tocando como já vínhamos fazendo, diz Pimentel

Os prefeitos reeleitos estão numa situação mais confortável do que os novatos. Muitos já fizeram os ajustes de suas contas, enquadrados nas regras da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e agora prometem investir mais em ações sociais, dando continuidade aos programas de saúde, habitação, segurança e combate ao desemprego. O prefeito reeleito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel, é, de longe, o mais otimista.

Como vem mantendo o cumprimento das regras da Lei de Responsabilidade Fiscal, a prefeitura de Belo Horizonte vive uma situação privilegiada em relação à maioria das demais capitais: está com as contas em dia e tem capacidade de endividamento, ou seja, pode contratar novos empréstimos para financiar obras e programas de governo.

Desafio agora é melhorar serviço em três áreas

Seu desafio agora é melhorar os serviços no que chama de três vértices do triângulo: pólo social, infra-estrutura e convivência urbana.

A regra de Maquiavel, de que o ruim se faz de uma vez só e as bondades devagarinho, é só para os novatos. Comigo não tem isso não. Estou tão otimista, a cidade está com uma energia tão positiva que os desafios daqui vamos tirar de letra. A administração está azeitada, temos uma ótima parceria com o governo de Aécio (governador de Minas) e com o de Lula em Brasília. Então o negócio é continuar tocando como já vínhamos fazendo ¿ diz Pimentel.

Seu colega Marcelo Déda (PT), reeleito em Aracaju, enfrentará situação mais difícil, por causa das dificuldades naturais de cidades de regiões mais pobres. Déda diz que seu maior desafio é conseguir uma agenda de investimentos públicos, pois os recursos em Sergipe são muito escassos para atacar a área mais carente, que é de infra-estrutura: saneamento, transporte, obras viárias e urbanização de favelas.

É muito difícil administrar uma cidade média no Brasil, de 500 mil habitantes, com um orçamento de R$500 milhões. É difícil eleger um grande desafio, pois eles estão em todas as áreas ¿ afirma o petista, campeão de votos no primeiro turno. ¿ O recurso é ir se equilibrando, sem fazer muita concessão ao populismo fiscal.

A violência é outro grande problema em Aracaju, mas Déda explica que os municípios ficam engessados pela falta de competência constitucional ¿ segurança pública é atribuição dos estados ¿ e pela falta de recursos. Mas ele explica que o primeiro ano de seu segundo mandato não será só de agonia. Vai começar com uma grande festa para comemorar os 150 anos de fundação da capital e aumentar a auto estima da população ¿ na mesma linha da publicidade institucional do governo Lula, intitulada o "melhor do Brasil é o brasileiro".

Aracaju também está com as contas em dia

Déda também está tranqüilo em relação às contas do primeiro mandato, que estão em dia com a LRF:

Minha sorte é que estou sendo sucedido por mim mesmo. Preocupei-me em deixar a casa arrumada. Não preparei nenhuma armadilha e nem serei criticado por meu sucessor. Isso é muito bom!

O também petista João Paulo, prefeito reeleito de Recife, enfrentará, além dos problemas estruturais de uma grande cidade nordestina, uma relação política difícil com o governador de Pernambuco, o peemedebista Jarbas Vasconcelos.

As diferenças partidárias, no entanto, serão deixadas de lado na hora de buscar com o governo federal melhores condições para as prefeituras. Assim que o Congresso retomar seus trabalhos, os prefeitos vão pressionar os parlamentares pela aprovação de uma emenda constitucional que aumenta em um ponto percentual o repasse da União aos municípios por meio do Fundo de Participação dos Municípios. Medida que dará uma pequena, mas sempre festejada, folga financeira às prefeituras.