Título: A VONTADE QUE DEVE PREVALECER
Autor: Antonio Carlos Magalhães
Fonte: O Globo, 01/01/2005, Opinião, p. 7

O ano que passou nos reservou algumas poucas boas surpresas e, infelizmente, outras tantas muitas decepções. Além de desastres anunciados.

Entre as surpresas está a estabilidade econômica, um bem que todos defendem, embora governo e oposição creditem o sucesso a causas diversas.

Ora, não importa se os pressupostos macroeconômicos são deste governo ou do anterior. O fato é que este governo ¿ o ministro Palocci em especial ¿ teve competência para consolidá-los. Ainda que praticasse o que sempre condenou e esquecesse o que sempre pregou, quando na oposição.

Tenho dito que o governo é constituído de poucos ministros competentes e de um grupo, infelizmente majoritário, de incompetentes. Uns confundem o governo com o partido; outros priorizam os interesses pessoais aos da sociedade. Pior, misturam esses interesses aos de grupos parapolíticos que têm origem no Partido dos Trabalhadores e hoje são mais fonte de problemas do que parceiros do governo. Julgam-se no direito de cobrar dívidas inexistentes e espaços a que não têm direito.

Quero acreditar que este ano veremos a vontade do candidato e a posição do presidente Lula prevalecerem sobre esses interesses subalternos e sobre a incompetência inata de alguns, ruins de voto e sem disposição para o trabalho. Aliás, muitos são conhecidos em seus estados ¿ e por isso são perdedores contumazes ¿ pela ¿inapetência laboral¿ que ostentam. Marcas indeléveis de caráter.

Tenho fé que o presidente saberá ouvir o candidato e recolocar a saúde do país nos trilhos. Não é somente a oposição que denuncia os desmandos que se verificam no Ministério da Saúde. O desgoverno, a incompetência e a malversação de recursos têm sido denunciados até mesmo por ex-membros do ministério que, inconformados, deixam as hostes governistas.

Tenho esperanças que o presidente ouvirá os técnicos do seu próprio governo, que demonstram, mesmo quando pressionados para que afirmem o contrário ou se omitam, ser um equívoco de graves conseqüências a insistência na transposição do Rio São Francisco. Assunto tão grave não pode ser tratado com tamanho açodamento e nem ser utilizado como arma de uma guerra de egos.

Quero acreditar como sinceras as promessas da bancada governista no Senado de que apoiará o meu projeto que transforma o Orçamento Geral da União em um orçamento impositivo. Sei que essa é uma luta renhida, em que a maioria dos adversários se esconde dentro da burocracia, nos escritórios dos maus lobistas, nos gabinetes dos anões.

Todos sabem que apoiei o candidato Lula no segundo turno. Apoiei pelas propostas que fazia e que espero ver cumpridas neste novo ano.

Sou fiel ao meu partido. Como tal, cerro fileiras na oposição, sempre com o compromisso que me acompanha nesses meus cinqüenta anos de política: de defender os interesses da minha Bahia e do país. Jamais me voltei e nem me voltarei contra eles.

Torço sinceramente para que o presidente possa cumprir com o que prometeu. Para isso, espero que ele consiga montar uma equipe à altura de suas promessas e metas. Ainda há tempo. Urge a mudança das peças ruins.

Somos oposição, mas não somos pelo quanto-pior-melhor. Torço pelo êxito do governo, porque quero o bem do Brasil.

O presidente, porém, também tem que se ajudar. Deve se cercar de homens públicos probos e competentes e se lembrar do que queria o candidato Lula, ouvindo e respeitando sua vontade. Tem, principalmente, que ouvir a sociedade, representada pelo Congresso Nacional.

No Congresso seguiremos firmes na defesa de nossos ideais, criticando o que deve ser criticado, apontando caminhos.