Título: AS NOVAS ESTRELAS DA BOLSA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 01/01/2005, Economia, p. 25

Com 6 meses de mercado, Natura, Gol e ALL são candidatas ao seleto grupo do Ibovespa

Cerca de seis meses após sua estréia no mercado, papéis de empresas como Natura, Gol e América Latina Logística (ALL) já despontam como as futuras estrelas do Ibovespa - índice que reúne as 55 ações mais negociadas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), como Telemar, Petrobras e Vale do Rio Doce. Na avaliação de analistas de mercado, as estreantes são as grandes promessas da Bolsa para os próximos anos, com maior destaque para a Natura e a CCR (do setor ferroviário), que lançou ações há quase três anos.

Apesar de ficarem de fora do Ibovespa, levantamento realizado pela consultoria Economática mostra que, em muitos casos, essas ações superam largamente - seja em volume negociado ou em média de negócios - algumas das notáveis do índice, como Banco do Brasil, Souza Cruz e Embraer. Caminham para se tornar, no jargão do mercado, as novas blue chips: os papéis mais negociados da Bolsa.

A Natura, que estreou no mercado no fim de maio, é um bom exemplo. Com valor de mercado de R$6 bilhões - e uma alta de cerca de 110% desde o lançamento - as ações da empresa do setor de cosméticos superam em total negociado papéis como Souza Cruz, Brasil Telecom e Embraer. Nos últimos seis meses, a Natura movimentou, em média, R$4,3 milhões na Bolsa. No mesmo período, as três outras ações giraram, respectivamente, R$4,06 milhões, R$3,93 milhões e R$3,45 milhões.

Esse também é o caso da Gol, que tem valor de mercado de R$8,15 bilhões. A empresa tem volume financeiro médio de R$1,62 milhão. Já Cemig, Light e Tractebel, que integram o Ibovespa, negociam R$1,49 milhão, R$981 mil e R$411 mil, respectivamente.

Desafio é manter a atratividade

- Esses papéis têm um fôlego que faz inveja a muita ação que hoje integra o índice, especialmente se observarmos que muitas são estreantes no mercado. Seria natural que, em 2005 ou 2006, alguns deles já entrassem no Ibovespa. Foi assim com a Caemi, que entrou na Bolsa há cinco anos, negociando R$100 mil diários, e estreou no índice em 2004, com um volume de R$15 milhões por dia - avalia Gustavo Alcântara, gestor de Fundos do Banco Prosper.

Para ele, as grandes candidatas ao Ibovespa são Sadia, ALL e CCR. A ALL, por exemplo, negocia uma média de R$6,5 milhões em Bolsa. É quase três vezes mais que a Tele Leste Celular PN, que movimenta R$2,34 milhões. Já a CCR tem um volume financeiro de R$6,08 milhões, frente a R$5,2 milhões da TIM Participações e R$3,38 milhões da Klabin.

- A CCR tem um grande atrativo para os investidores. Quando foi lançada, distribuía 25% do lucro em dividendos. Hoje, paga 50% semestralmente. Isso porque a concessão rodoviária tem custo inicial muito elevado, mas manutenção razoavelmente baixa, o que permite distribuir uma parcela cada vez maior do lucro - diz Lucas Brendler, analista de investimentos da corretora Geração Futuro.

Alcântara lembra que a CCR tem outra grande vantagem: quase metade do capital negociado em mercado está fora das mãos dos controladores.

- São cerca de R$2 bilhões, numa empresa cujo capital total está em R$5,5 bilhões. Quanto maior for essa relação, mais liquidez (facilidade de compra e venda) tem o papel, o que atrai mais investidores - afirma Alcântara.

Esse também é o caso da Natura. Ricardo Magalhães, gestor de Renda Variável da Mellon Global Investments Brasil, lembra que a empresa tem 26% do capital negociado em Bolsa. Mas o ponto fraco de algumas das pretendentes ao Ibovespa está na média de negócios. Para entrar no índice, os papéis precisam ter um bom volume financeiro e boa média de negócios. A Natura tem uma média de 72,7 operações diárias. Ponto para a CCR, que sai na frente com 184 operações diárias, e para a Sadia, com 227. Bem mais que os 82 da Cemig, 152 da Light e 178 da Klabin.

- O grande desafio está em manter essa atratividade a médio prazo, o que as qualificaria para entrar no índice - diz Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora Senior.

Para analista, Sadia mostra potencial

Para Régis Abreu, diretor de Renda Variável da Mercatto Gestão de Recursos, esse é o caminho:

- O processo natural é que empresas como Natura e Gol tomem o lugar de outras como Light e Tractebel no Ibovespa. Não me surpreenderia se isso ocorresse já este ano. Hoje, mesmo sem fazer parte do índice, esses já são papéis bastante disputados no mercado, com melhor avaliação que muita ação do Ibovespa - afirma Abreu.

Para Bandeira, da Ágora, a grande promessa da Bolsa está hoje na Natura:

- É uma empresa com logística bem-feita, sem dívidas e ótimas perspectivas de crescimento. Um dos trunfos está no público-alvo, diversificado.

Mas, deste novo grupo de ações, a Sadia é a que mostra o maior potencial. Suas ações preferenciais (com prioridade no recebimento de dividendos) negociam uma média de R$8,31 milhões, duas vezes superior aos papéis de Souza Cruz (R$4,06 milhões) e Brasil Telecom (R$3,93 milhões). Em número de negócios a Sadia também sai na frente, na comparação com as duas estrelas do Ibovespa: tem média de 227 operações, contra 186 da Souza Cruz e 175 da Brasil Telecom.

- A Sadia cresce impulsionada pelo mercado interno e externo. Há um forte mercado cativo em que ela se destaca pela qualidade e pelo preço competitivo. Características que atraem investidores - avalia Ricardo Junqueira, sócio-diretor da Ático Asset Management.