Título: ÚLTIMAS DA REFORMA
Autor: Helena Chagas
Fonte: O Globo, 30/12/2004, O País, p. 4
Lula baixou o fogo e botou o assunto em banho-maria, mas os mais próximos dizem que a reforma ministerial deve, sim, sair lá pelo fim de janeiro. E com surpresas. Além dos objetivos já declarados de dar um ministério melhor ao PMDB e acomodar o PP, Lula quer resolver o problema administrativo da Previdência. Pode acabar colocando ali alguém com o perfil de Ciro Gomes.
O modorrento fim de ano de Brasília tem dado paz e tranqüilidade ao presidente para cozinhar sua reforma. Nas conversas, continua fazendo mistério sobre a receita. A cada interlocutor, revela só um pedacinho do que está pensando. Junta daqui, junta dali, porém, os palacianos já têm idéia do que faz e do que não faz sentido em relação ao assunto. Por exemplo:
1. A ida de Roseana Sarney para a Esplanada é praticamente certa; pasta das Cidades, nem tanto. Nenhum interlocutor do presidente nega sua intenção de levar a ex-governadora do Maranhão e filha de José Sarney para o primeiro escalão, assegurando assim o apoio do grupo Sarney, espalhado no PFL e no PMDB. A maioria aposta, porém, que dificilmente a pasta em questão será a das Cidades - que, claramente, é a da preferência dos aliados da senadora. Para variar, é grande a pressão do PT para manter esse ministério nas mãos do partido, ainda que não necessariamente com Olívio Dutra. Pode até ir para outro petista. Amigo do peito do presidente, Olívio não ficará aos Deus dará. E Roseana pode acabar nas Comunicações.
2. O ministério mais forte do PMDB pode ser o da Integração Nacional. Para facilitar a equação aí de cima, Eunício Oliveira poderá ser o peemedebista escolhido para ocupar uma pasta mais importante, provavelmente a Integração. É, há muito, o sonho de consumo do PMDB - o que não impedirá os senadores do partido de reivindicarem um terceiro ministério caso venham, como temem, a perder a Previdência. Essa negociação é paralela à dos Sarney, já que as bancadas do PMDB no Congresso não se sentem representadas pela ex-governadora do Maranhão.
3. A Previdência virou problema crucial. Nesse efeito dominó, Lula pretende unir o útil ao agradável substituindo também Amir Lando na Previdência. Não que tenha críticas à atuação do peemedebista, de quem até gosta bastante. Mas, segundo assessores, há consenso hoje no Planalto de que as fraudes previdenciárias, as filas do INSS, o mau atendimento aos idosos e outras mazelas do setor precisam de um tratamento de choque. Alguém que chegue no ministério com disposição de revirar tudo de pernas para o ar, comprar brigas, demitir, punir, expulsar, tomar atitudes drásticas. A cara de Ciro Gomes - que, a princípio, não toparia a mudança, mas pode acabar seduzido pelo desafio. Afinal, quem conseguir dar um jeito na Previdência deste país pode virar até candidato a presidente da República.
4. Ministério de Gushiken pode ser desmembrado e área de Comunicação reforçada. Outra área em que o presidente está pensando em mudanças administrativas. É que, desde a última reunião ministerial, a cúpula do governo passou a assumir publicamente que comunica mal. E Lula se convenceu de que tem que dar um jeito nisso. Não vai abrir mão dos conselhos de Gushiken nas questões estratégicas de governo, de que sua pasta também trata hoje. Sua tendência é dividir o Ministério de Assuntos Estratégicos e Comunicação de Governo (Secom). A primeira parte continuaria comandada por Gushiken e poderia se juntar ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. A segunda seria o Ministério da Comunicação Social, comandado por um nome forte do PT.
5. Teste de resistência: Aldo e Agnelo ficam. Aldo Rebelo, alvo do PT na Articulação Política, sai fortalecido com o desfecho das eleições no Congresso. É não só interlocutor, como amigo e aliado dos futuros presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh. Trabalhou pela escolha dos dois e está no time dos vitoriosos da temporada. Continua, é verdade, num lugar cobiçado pelo PT. Mas boa parte dos que até ontem nele atiravam jogou a toalha e já admite sua permanência. Aldo forte, Agnelo preservado. O argumento é de que o ministro da Articulação é da cota pessoal de Lula. E o ministro do PCdoB, que não pode ficar sem representante, é Agnelo nos Esportes.
6. Os nomes da moda. Quem mais pode entrar, ser remanejado ou promovido na dança das cadeiras: João Paulo, Jorge Viana, Jaques Wagner, Romero Jucá, Paulo Bernardo...