Título: A TRAGÉDIA ESQUECIDA DA SOMÁLIA
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Fonte: O Globo, 01/01/2005, O Mundo, p. 32

Já castigado por guerra, país africano ainda não recebeu ajuda para vítimas

MOGADÍSCIO. Distante 4.500 quilômetros do epicentro do terremoto de domingo, a Somália não escapou, no entanto, da fúria das tsunamis. As ondas gigantes atravessaram o Oceano Índico e atingiram a costa africana, causando destruição na Somália, um país já devastado por anos de guerra civil.

O coordenador do grupo de emergência da ONU, Jan Egeland, disse que seu pessoal só começou a chegar a povoados somalis atingidos ontem. Muitos vilarejos, porém, continuam isolados. A ilha de Hafun, com 7.500 habitantes, está deserta e devastada. Quase todos os seus habitantes fugiram, em busca de segurança longe do mar. Hafun era o lar de pescadores e suas famílias.

Há pelo menos 50 mil pessoas desabrigadas

A ONU estima que 200 pessoas tenham morrido na Somália, mas 50 mil estão desabrigadas, sem água e comida. Como o país é um dos mais miseráveis do mundo, a ONU teme pela sobrevivência de milhares de pessoas.

A maioria das vítimas é da região semi-autônoma de Puntland. A pior situação, segundo o governo da Somália, é em Hafun, na costa de Puntland. Teme-se que mais gente tenha morrido.

- Há pouco contato com Hafun. Moradores contaram 200 mortos, mas achamos que o número seja maior. Na verdade, mesmo no continente, há um número desconhecido de desaparecidos - disse o porta-voz do governo da Somália, Yusuf Mohamed Ismail.

A ONU diz que no momento não há como saber qual é a verdadeira situação da Somália porque muitas partes do país são consideradas zonas de guerrilha, muito perigosas para as equipes de resgate. O coordenador de ação humanitária da ONU no Chifre da África, El-Balla Hagona, afirmou que o mundo poderá nunca conhecer a real dimensão da tragédia nesse país africano.

Cerca de 30% do litoral da Somália foram duramente afetados pelas tsunamis.

- De avião, vimos incontáveis casas destruídas. Vilas desapareceram. Pedaços da ilha de Hafun estão submersos. Não sabemos quantas pessoas ainda estão vivas na ilha, quantas fugiram ou morreram - disse Hagona.

Equipes da ONU não podem sequer sobrevoar determinadas partes da zona costeira somali porque seus aviões podem ser abatidos. Chefes guerrilheiros têm considerável artilharia antiaérea e impedem as equipes de resgate de chegar às áreas de desastre.

- Achamos que pelo menos 50 mil pessoas precisam de ajuda imediata, mas não sabemos como auxiliá-las - disse Laura Melo, do Programa de Alimentos da ONU.