Título: VIOLÊNCIA CRIA FLUXO MIGRATÓRIO NO ESTADO DO RIO
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 30/12/2004, O País, p. 9

Capital cresceu abaixo da média nacional enquanto sete municípios do litoral norte não pararam de ganhar moradores

A fuga da violência urbana, combinada com a busca de qualidade de vida, criou na última década novo fluxo migratório no Estado do Rio. Enquanto cidades grandes, como o Rio de Janeiro e Niterói, tiveram crescimento populacional abaixo da média brasileira, municípios localizados no litoral norte fluminense não pararam de crescer. De acordo com "Tendências demográficas", pesquisa do IBGE divulgada esta semana, no ranking dos dez municípios que mais cresceram, sete estão nessa região do estado.

- O estado vive o efeito Dorival Caymmi (compositor que trocou a cidade grande por Rio das Ostras). Ao se aposentar, as pessoas estão buscando nas cidades litorâneas o sossego que o Rio, mergulhado no caos urbano, já não pode oferecer - diz o economista André Urani, da UFRJ.

Iguaba Grande cresce 8,11% a cada ano

Iguaba Grande, a cidade fluminense que mais ganhou população entre 1991-2000, a taxas anuais de 8,11%, é o melhor exemplo do fenômeno. Embora não esteja entre os principais beneficiados na divisão do bolo de royalties do petróleo (recebe mensalmente R$200 mil), o município, a 120 quilômetros da capital, tornou-se uma espécie de Flórida fluminense, refúgio tranqüilo de uma crescente população da terceira idade, que transformou-se de veranista em moradora fixo.

- Daqui não saio, daqui ninguém me tira - brinca Luiz Carlos Braga, suboficial reformado da Polícia Militar.

Luiz Carlos comprou um terreno em Iguaba Grande há dez anos. Ergueu uma casa, onde passava férias e fins de semana até 2001, quando se mudou de vez, levando a mulher e os dois filhos. Ele morava em Niterói, cidade que cresceu apenas 0,59% (a média nacional foi de 1,64%), mas resolveu mudar-se em busca de um lugar "em que a violência fosse quase zero".

- Além disso, a lagoa salgada, com iodo, ajuda a minha mulher no tratamento de diabetes - acredita.

O prefeito da cidade, Rodolfo Pedrosa, disse que as políticas municipais passaram a priorizar a terceira idade, com programas de atendimento domiciliar e atividades especiais para idosos, justamente por conta do fenômeno demográfico. Ele admite, porém, que o crescimento populacional fez surgir alguns bolsões de pobreza na cidade.

Iguaba Grande, a cidade, onde a expectativa de vida é de 70,93 anos, tem o IDH mais alto entre os municípios da Região dos Lagos, a que mais avançou de 1991 a 2000

Na lista dos dez que mais cresceram, encontrada em "Tendências Demográficas", seis cidades recebem royalties na condição de produtores de petróleo. Para a coordenadora da pesquisa do IBGE, Nilza Pereira, há relação entre o crescimento populacional e os recursos gerados pela atividade petrolífera. Rio das Ostras, por exemplo, atingiu taxas de crescimento médio de 8,07%.

Pólo metal-mecânico atraiu migrantes para duas cidades

O crescimento de Porto Real e Itatiaia, em torno de 5% anuais, pode estar relacionado ao pólo metal-mecânico surgido em torno da fábrica da Volkswagen. O principal movimento migratório, porém, está voltado para o litoral norte, que exibe nada menos do que dez cidades na relação feita pelo IBGE com os 19 municípios fluminenses que tiveram crescimento superior a 3%.

No caminho inverso, encontram-se principalmente as cidades serranas do Norte Fluminense, como Macuco, Trajano de Morais e Santa Maria Madalena, além de Nilópolis, que teve um crescimento negativo de 0,31%. Rio de Janeiro, com 1,08%, Niterói, com 0,59%, e Campos dos Goytacazes (0,88%) fazem parte da relação de municípios fluminenses que tiveram crescimento inferior à média nacional.

ONDE CRESCEU E ONDE CAIU

CIDADES FLUMINENSES QUE MAIS CRESCERAM

IGUABA GRANDE: 8,11%

RIO DAS OSTRAS: 8,07%

ARMAÇÃO DE BÚZIOS: 6,33%

CABO FRIO: 6,17%

MARICÁ: 5,77%

PORTO REAL: 5,12%

ITATIAIA: 4,96%

SÃO PEDRO DA ALDEIA: 4,43%

CASIMIRO DE ABREU: 3,99

MACAÉ: 3,91%

ARARUAMA: 3,87%

ANGRA DOS REIS: 3,79%

MANGARATIBA: 3,76%

SAQUAREMA: 3,72%

GUAPIMIRIM: 3,44%

PINHEIRAL: 3,21%

ITABORAÍ: 3,15%

SEROPÉDICA: 3,11%

QUISSAMÃ: 3,04%

CIDADES FLUMINENSES COM PERDA POPULACIONAL

MACUCO: -1,39%

TRAJANO DE MORAIS: -0,65%

SANTA MARIA MADALENA: -0,39%

NILÓPOLIS: -0,31%

CAMBUCI: -0,28%

CARDOSO MOREIRA: -0,18%

ITALVA: -0,13%

TAXA MÉDIA NACIONAL DE CRESCIMENTO: 1,64%

RIO DE JANEIRO: 0,75%

Fonte: IBGE/"Tendências Demográficas"