Título: FÓRUM SOCIAL
Autor:
Fonte: O Globo, 02/01/2005, Panorama Político, p. 2

Milhares de ativistas do mundo inteiro estão vindo ao Brasil para participar, no fim deste mês, em Porto Alegre, do quinto Fórum Social Mundial. Esta ¿feira de produtos ideológicos¿, como definiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é um ponto de encontro para aqueles que buscam construir uma nova ordem internacional, com justiça social, paz e oportunidades de desenvolvimento para todos.

Seus organizadores consideram que o grande desafio do Fórum Social Mundial é o de manter-se como um espaço aberto a serviço das múltiplas lutas da sociedade, evitando comprometer-se com partidos e a assumir bandeiras políticas. Por isso, não foi bem recebida a proposta do presidente Lula, de que o Fórum definisse ¿um ou dois temas para se transformar em bandeira para eles trabalharem durante o ano inteiro¿. Lula queria, e ainda quer, que o Fórum Social encampe sua proposta de se criar um programa mundial de combate à fome, proposta já feita ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, e às Nações Unidas. Mas sua iniciativa foi interpretada como uma forma de bloquear a livre ação política da sociedade civil.

¿ O Fórum Social não pode ter uma bandeira específica. Se fizesse isso, se transformaria num movimento e deixaria de ser um espaço aberto. Ninguém vai ao Fórum para começar uma luta, todos vão lá em busca de intercâmbio para dar continuidade às suas lutas ¿ diz Francisco Whitaker, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

Essa postura garante a pluralidade do Fórum Social, mas também representa um limite, na medida em que não se poderá esperar dele propostas concretas para superar as mazelas mundiais. Militantes políticos, que desde 2001 se envolveram na organização do Fórum, acreditam que este modelo está esgotado e que é preciso dar conseqüência prática à energia política acumulada nos últimos cinco anos. Avaliam que nem mesmo será possível transformar em realidade o lema ¿Um outro mundo é possível¿, se o Fórum mantiver como seu único ponto de unidade o fato de ser contra a ordem econômica e financeira internacional. Mas isto, para Whitaker, é questão superada:

¿ Muitos sentem falta de bandeiras que unifiquem e conduzam o movimento. Mas o importante é o debate. As idéias que tiverem força vão ser levadas adiante pela sociedade.