Título: Consumo de energia foi recorde em dezembro
Autor: Ramona Ordoñez, Flávia Barbosa e Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 05/01/2005, Economia, p. 21

Nunca se consumiu tanta energia no país em um único mês quanto em dezembro passado. A alta foi de 5,1% em relação a dezembro de 2003, para 33.407 gigawatts/hora (GWh), divulgou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No ano de 2004, o consumo subiu 4,7%, dentro da média esperada de 4,6%. Tanto o governo como especialistas garantem que não há risco de falta de energia nem de racionamento, porque sobra eletricidade no mercado. Mas o apagão ocorrido no Rio de Janeiro e no Espírito Santo no sábado, apesar de motivado por falha humana, acendeu a luz amarela.

Surge de novo o temor de que a oferta de energia não acompanhe o crescimento econômico previsto para os próximos anos. A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, responde com a promessa de investimentos de R$ 6,113 bilhões em recursos públicos e privados em 2005 em 44 usinas, entre hidrelétricas e termelétricas, e 65 linhas de transmissão.

Especialistas acham pouco e advertem que são necessários R$ 15 bilhões por ano para garantir a expansão do sistema, cujo cronograma é ameaçado ainda pelos atrasos de licenciamento ambiental. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 34 usinas estão atrasadas devido a questões ambientais.

¿ O grande desafio é enxergar 2008, quando podem começar a surgir problemas de abastecimento. Por isso, a maior parte de investimentos e licenças ambientais tem que sair este ano ¿ diz Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib).

Segundo o presidente da Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica (CBIEE), Cláudio Salles, para o setor atrair investimentos é preciso também discutir a excessiva carga tributária e definir o papel das agências reguladoras. Dilma afirma que os percalços vêm sendo vencidos e que as licenças deixaram de ser entraves:

¿ O Ministério do Meio Ambiente está fazendo um trabalho ótimo.

O objetivo do governo, diz Dilma, é expandir a oferta de energia. Segundo ela, é preciso aumentar a capacidade de suprimento ao Nordeste, reforçar as interligações regionais Sul-Sudeste e Norte-Sul e aumentar a confiabilidade do sistema e o fornecimento às regiões metropolitanas.

O superintendente de Fiscalização da Aneel, Jamil Abid, admite que, no ano passado, 1,2 mil megawatts de energia deixaram de ser produzidos por problemas ambientais e o crescimento do país pode exigir que o cronograma das obras seja acelerado. Mas ele acredita que algumas usinas poderão entrar em operação este ano:

¿ É evidente que não temos capacidade instalada para suportar um crescimento prolongado como o de 2004.

Para 2005, as previsões do Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico, que reúne governo e empresas, são de consumo 5,4% maior, para uma expansão de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB). As previsões serão revistas agora.

Operação da usina nuclear de Angra 1 volta ao normal

A usina nuclear de Angra 1, desligada por questões de segurança durante o apagão, voltou a funcionar a plena carga às 4h de ontem, gerando 520 megawatts (MW) médios. Na segunda-feira, ao ser religada, apresentou um defeito que impedia o aumento da produção. Angra 2 está desligada desde 30 de novembro por um defeito no gerador elétrico ainda não solucionado.