Título: Serra enfrenta racha no PSDB
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Fonte: O Globo, 02/01/2005, O País, p. 3

Vereador deixa partido, anuncia oposição e é eleito presidente da Câmara, derrotando Montoro

Oprefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), iniciou seu governo ontem com um racha em seu próprio partido. O vereador reeleito Ricardo Trípoli deixou o PSDB depois de se desentender com o também tucano Ricardo Montoro. Ambos disputaram a presidência da Câmara, essencial para os planos políticos de Serra. Trípoli acabou sendo eleito no começo da noite, por 29 votos a 25, derrotando Montoro. O ex-tucano anunciou que liderará a oposição ao novo prefeito. Antes disso, houve muita confusão e empurra-empurra entre os vereadores.

O clima de rivalidade contrastou com o tom da cerimônia de posse de Serra. Em discurso, Serra acenou com a possibilidade de uma trégua política com o PT ao receber o cargo da ex-prefeita Marta Suplicy. Serra assume uma administração endividada e necessitará de apoio do governo federal. A petista ofereceu apoio, mas deixou claro: ele precisaria dar continuidade aos principais projetos iniciados em sua gestão, como os Centros de Educação Unificados (CEUs), o bilhete-único e o Passa-Rápido.

O prefeito tucano repetiu duas vezes ontem, nas solenidades de posse, que "a política é a arte de ampliar os limites do possível". Segundo Serra, seu governo não será partidarizado, nem visará aos interesses da maioria eventual.

¿ Nunca quis nem quero ser prefeito de São Paulo contra este ou aquele partido, esta ou aquela corrente de liderança ¿ discursou Serra.

O prefeito frisou ainda que o povo paulistano não deve ter medo de mudanças, e precisa se mobilizar:

¿ Tenho consciência de que a situação que vamos encontrar é difícil, principalmente, mas não apenas, do ponto de vista financeiro. A prefeitura está sem dinheiro, isto é bastante evidente. Gastou mais do que poderia, comprometeu-se além da conta e cumpriu aquém do razoável. Mas, por favor, não vejam nisso uma crítica. É apenas uma constatação. E uma lembrança para incentivar que façamos diferente. O que me move é o futuro. Vou governar sem espelho retrovisor.

O dobro dos acertos e metade dos erros

A ex-prefeita, por sua vez, foi enfática na defesa de sua gestão:

¿ Muitos programas inovadores foram criados e o futuro governo tem todas as condições de dar continuidade e aprimorar este legado e estas conquistas sociais. A trajetória pessoal do novo prefeito me leva a supor que assim será. Seguramente erros foram cometidos e muito poderá ser melhorado ¿ discursou Marta.

Antes de passar o cargo, a petista afirmou:

¿ Serra, desejo para você o dobro dos meus acertos e a metade dos meus erros.

O prefeito aproveitou a presença do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para lembrar da amizade entre ambos e frisar que ele representava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a relação cooperativa que haverá com o governo. Serra também fez um agradecimento especial ao governador Geraldo Alckmin (PSDB):

¿ Será uma prefeitura voltada à parceria, ao trabalho conjunto com a União e o estado. Confio no trabalho harmônico com o governo federal e o governo do estado.

O ex-presidente Fernando Henrique foi à solenidade e acabou ovacionado pelo público, no saguão principal da Prefeitura. Logo depois da posse, foi levado por Serra a seu gabinete, no quinto andar, junto com outras autoridades. Fernando Henrique foi chamado de "irmão maior" e exemplo de ética e integridade política.

Antes da posse, Serra recebeu em sua casa, por volta das 14h, a visita de um médico. O prefeito eleito estaria nervoso, e por isso um clínico geral foi chamado.