Título: `A PRESSÃO POLÍTICA É FILTRADA, NÃO CHEGA ATÉ MIM¿
Autor: Sérgio Fadul e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 02/01/2005, O País, p. 8 e 9
A PF não disparou um único tiro nessas grandes operações...
LACERDA: É uma rigidez na execução das operações. Ao prender, tem que imobilizar. Pouca conversa e muita ação. Todo trabalho que a PF faz é submetido ao Ministério Público e ao Judiciário. Eventuais excessos serão levados ao Judiciário. Tinha um ditado que a gente usava nas aulas de ética da Academia que era: ¿Não seja arrogante com o humilde e nem humilde com o arrogante¿. Infelizmente, na história da polícia como um todo, não é bem assim que acontece.
A pressão contra as operações tem aumentado?
LACERDA: O ministro filtra essa pressão, que não chega até a mim. O que chega são pedidos de informações. É até um dever nosso informar o que acontece.
A pressão política atrapalha?
LACERDA: Não tem atrapalhado. Não recebo pressão política. São pedidos de informação. É um direito. Até o preso pode se comunicar com advogados, com a família, e os administradores públicos têm que saber o que acontece em suas áreas. E os órgãos públicos que sofrem algum tipo de ação da PF têm dado apoio a essas operações. O ministro da Saúde, Humberto Costa, com tudo que houve, tem mandado constantemente informações para a PF investigar. No TCU, que foi uma coisa delicada, há servidores que dizem entender que foi algo necessário.
Quanto custa cada uma dessas grandes operações?
LACERDA: A parte operacional custa cerca de R$200 mil, o Dia D. Mas há todo o trabalho de investigação que leva um ano, dois. O motivo do êxito dessas operações da PF é a inteligência, a mobilidade do pessoal, a separação das atividades e os modernos instrumentos de investigação. As pessoas falam muito mal do Congresso, mas a gente tem que reconhecer que houve avanço muito grande nos instrumentos que dão condições para a polícia trabalhar.
Por que a repressão aos crimes ambientais será prioridade da PF em 2005?
LACERDA: A PF tem condições de dar uma grande contribuição nos crimes ambientais. Cobram muito do Brasil uma atuação mais dura nessa questão. Verifica-se de novo o agente público envolvido na corrupção. Criamos o Centro Integrado de Aperfeiçoamento em Polícia Ambiental (Ciapa), uma experiência única no mundo. Um policial sem consciência ecológica para combater esse tipo de delito, é perda de tempo. Ele vai dizer : ¿Tinha que estar prendendo era traficante e não o cara com periquitos¿. Tem que formar o policial e levar agentes públicos de outros órgãos. Vamos usar a inteligência também para reprimir o tráfico de armas ilícitas. Apreendemos 24 mil armas de bandidos e o desarmamento tirou 200 mil armas de pessoas de bem. Os bandidos não vão entregar. As armas deles têm que ser tomadas.