Título: O morro vai ter vez
Autor:
Fonte: O Globo, 02/01/2005, Rio, p. 14
Cesar Maia elege favelas como prioridade de sua terceira gestão na prefeitura
Nem Zona Oeste, nem Zona Norte. Tampouco Zona Sul. Na tentativa de arrebanhar eleitores, o prefeito Cesar Maia escolheu a favela ¿ onde sua votação em 3 de outubro foi inferior à que obteve no asfalto ¿ como a menina-dos-olhos da sua terceira administração. Em entrevista ao GLOBO na semana passada, Cesar anunciou a nova prioridade e disse que não pensa em remoção ou em criar mecanismos para evitar a expansão de áreas favelizadas. A sua intenção é integrar os moradores dessas comunidades à cidade, por meio de obras, equipamentos sociais e programas.
¿ Queremos que, em 2008, a percepção do governo pelas pessoas que moram em favelas esteja no mesmo patamar do resto da cidade. Tive 35% do total de votos das favelas e 55% do total do asfalto. O julgamento dos governos é a eleição. Não fui eu que inventei isso; foi a democracia. Então, se eu tenho de me submeter a uma avaliação como político, preciso saber como intervenho ¿ afirmou o prefeito.
Há um ano e meio, Cesar mergulhou em leituras sobre favelas, mas ainda depende de pesquisa para detalhar os projetos que desenvolverá. O certo é que, segundo ele, só o Favela-Bairro não basta, porque, mesmo em comunidades onde esse programa é executado, o desempenho de Cesar nas últimas eleições não foi bom.
Plano de construir mais vilas olímpicas
Mas o prefeito tem algumas linhas de ação. Intensificar a construção de vilas olímpicas, implantar parques como a Cidade das Crianças (em Santa Cruz) e oferecer transporte para dar mais mobilidade aos moradores das favelas são algumas das idéias.
¿ Verificamos, por exemplo, que as vilas olímpicas produziram um impacto cultural nas favelas. São equipamentos de integração da favela à cidade. Não falo de convivência. O Rio é uma cidade aberta. Essa convivência sempre existiu. Mas temos a cidade dividida por causa de duas superestruturas culturais (asfalto e favela), que reagem e se vêem de forma diferente ¿ disse Cesar.
Certo também para o prefeito é que habitação não é prioridade para os moradores das favelas. Na sua opinião, é preciso oferecer habitação àqueles que estão prestes a se mudar para uma favela:
¿ Imaginar que, pela oferta de habitação, se desfaveliza é um engano. É preciso entrar na alma do favelado e levar em conta ainda um fenômeno novo dos últimos 20 anos, que é o da classe média da favela.
No seu primeiro governo, de 1993 a 1996, a prioridade de Cesar Maia foi a Área de Planejamento 3 (zonas da Leopoldina e da Central). Segundo ele, na ocasião o trabalhismo populista era forte nessa região. No segundo governo, de 2001 a 2004, o centro das atenções foi a Zona Oeste:
¿ Passamos a ter hegemonia na Zona Norte e, depois, na Zona Oeste ¿ contou Cesar.
Descansado e bem-disposto, depois de passar uma semana na Disney com os quatro netos, a mulher e os dois filhos, o prefeito disse que só deixa a prefeitura em 31 de março de 2006 para disputar a Presidência da República se a candidatura for competitiva. Ele estima hoje as chances de sair da prefeitura ano que vem em 5%.
¿ Se eu for competitivo lá na frente, o eleitor carioca vai exigir que eu dispute essa eleição, porque sabe que a segurança pública no Rio só vai ser resolvida por um presidente que tenha compromisso com a cidade. E evidentemente que, uma vez na Presidência da República numa hipótese remota, essa vai ser a primeira prioridade em janeiro de 2007.
Porém, Cesar só quer a presidência. Ele garantiu que estar fora de cogitação a disputa pelo governo do estado ou pela vice-presidência:
¿ Estamos procurando nomes para concorrer ao governo do estado. Quanto à vice-presidência, se o PFL se juntar numa chapa com o PSDB, o vice do PFL será um candidato da estrutura do partido.