Título: A MISSÃO DO LÍDER
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 04/01/2005, Panorama Político, p. 2

Nos dois primeiros anos do governo Lula, o bancada do PT não foi nem a sombra em matéria de unidade e disciplina do que era quando o partido estava na oposição. O partido dividiu-se em votações importantes, que diziam respeito ao governo Lula, e a indisciplina ora foi punida com a expulsão ora foi tolerada. Resgatar a unidade interna é a principal tarefa do futuro líder do partido.

O processo para sua escolha já está em andamento e, ao que tudo indica, será mais pacífico do que tem sido a candidatura do PT à presidência da Câmara. Integrante da tendência Articulação, o deputado Paulo Rocha (PT-PA) é o favorito e até agora não tem adversários. Articulador discreto, Rocha trabalha para que sua candidatura seja unitária, e tenha o apoio dos moderados e da esquerda.

¿ Minha candidatura a líder tem o sentido de resgatar a unidade política, articular uma atuação coletiva e abrir canais para que a bancada seja mais ouvida pelo governo ¿ diz Rocha.

Antes mesmo de seu nome ser cogitado para o cargo, Rocha já tinha como preocupação aproximar os deputados do governo e promoveu inúmeros encontros entre ministros e deputados petistas. Ele acha que é possível que o PT volte a votar unido em plenário mesmo em questões polêmicas, como a da autonomia do Banco Central. Para que isso ocorra quer retomar a prática de a bancada ser ouvida antecipadamente sobre as questões que são centrais para o governo Lula. Avalia que assim o partido terá mais tempo para ruminar as informações sobre medidas de governo.

Membro do grupo político do PT que comanda a Câmara, aliado do atual presidente, João Paulo Cunha (PT-SP), e do líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP), Rocha quer descentralizar, distribuir tarefas e fazer uma direção coletiva. Uma de suas idéias é ter três ou quatro vice-líderes de plenário, que se revezariam nesta função, e seriam escolhidos em função de sua experiência de debate parlamentar. Outra de suas idéias é especializar o trabalho dos vice-líderes. Seriam nomeados vice-líderes para acompanhar comissões e CPIs. E também seriam escalados petistas que teriam como responsabilidade supervisionar as áreas de infra-estrutura, desenvolvimento econômico, saúde, educação, meio ambiente e a política agrária, entre outras.

O futuro líder do PT terá um duplo desafio: fazer com que a bancada participe do debate com voz própria e não permitir que esta desafine nas votações.