Título: UMA EXPLICAÇÃO INSÓLITA
Autor: Eliane Oliveira,Ramona Ordoñez e Carlos Orletti
Fonte: O Globo, 04/01/2005, Economia, p. 17

Comitê diz que apagão foi causado por falha humana após defeito no sistema

Afalha de um funcionário durante a operação do sistema elétrico na subestação de Cachoeira Paulista (SP), após um defeito técnico sem causa aparente, provocou o apagão que atingiu no primeiro dia de 2005 os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo e parte de Minas Gerais. Esta foi a conclusão do Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico, que reuniu ontem representantes do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do Operador Nacional do Sistema (ONS) e de Furnas Centrais Elétricas, geradora responsável pelo sistema na região.

¿ Foi uma situação absolutamente insólita. A falha humana ocorreu justamente na tentativa de corrigir uma falha técnica no sistema de linhas de transmissão operado por Furnas ¿ disse o presidente do ONS, Mário Santos.

O presidente de Furnas, José Pedro Rodrigues de Oliveira, disse que o Rio é abastecido por quatro linhas de transmissão. Com a baixa demanda de energia, comum num feriado, uma linha foi desligada. Só que, no fim da tarde de sábado, duas linhas caíram por problemas técnicos ainda não identificados.

No momento em que as duas linhas seriam religadas, um funcionário de Cachoeira Paulista, em vez de reativá-las, acabou desligando a única linha que ainda estava funcionando. Neste momento o fornecimento de energia foi interrompido por até uma hora e meia.

Ministra diz que não haverá novo apagão

As causas do apagão estão sendo analisadas pela Aneel, que enviou ontem ofício pedindo explicações a Furnas. Com base nas informações que receber, a agência terá 15 dias para concluir seu relatório. Furnas terá, então, 15 dias para se defender, e a Aneel, mais 30 dias para apresentar o resultado da sindicância. Por lei, a multa à empresa infratora é de até 2% do faturamento anual.

A Aneel quer saber, entre outras coisas, a causa do apagão, a área total atingida, a duração real da interrupção e o tempo que a empresa levou para restabelecer o fornecimento de energia.

¿ Só depois de analisados todos os fatores, será possível chegar a uma conclusão ¿ disse a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.

A ministra reafirmou que não existe risco de novo apagão no Rio. Ela lembrou que, quando ocorreu o racionamento entre 2001 e 2002, a causa foi falta de energia, o que não é o caso atual:

¿ Qualquer tentativa de transformar o caso do Rio em algo estrutural está equivocada.

Na opinião do especialista Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), e do secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, o apagão no Rio poderia ter durado menos se o governo federal definisse a participação das usinas termelétricas a gás no setor energético. Ao contrário do que acontecia anos atrás, o estado é auto-suficiente em energia com uma capacidade de cinco mil megawatts (MW), o mesmo volume que é consumido. Mas uma boa parte dessa energia é gerada por diversas termelétricas, que no momento do apagão estavam desligadas.

Ontem, a usina nuclear de Angra 1, que foi desligada durante o apagão por questões de segurança, apresentou problemas em uma das válvulas de água do gerador de vapor ao ser religada, o que acabou limitando sua produção. Técnicos da Eletronuclear esperavam solucionar o problema até a noite de ontem.

O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, cobrou providências da ministra. Ele pede ao governo federal esforço concentrado para a conclusão da linha de transmissão Ouro Preto-Vitória, de Furnas, parada por questões ambientais.