Título: Crescimento deve continuar, mas num ritmo mais lento que em 2004
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 02/01/2005, Economia, p. 30

Economistas alertam para o efeito estatístico da base de comparação

Se no fim de 2003 doses de incerteza em relação ao cenário mundial e ao comprometimento do governo com as ações do primeiro ano de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva impuseram um freio às projeções para 2004, hoje as expectativas para o ano novo não poderiam ser melhores. As estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) variam entre 3,2% e 4,1%, num desempenho pior que o do ano que passou, mas ainda assim muito bom. Nunca é demais lembrar que é mais fácil crescer 5% quando a base é uma economia estagnada do que avançar 4% no ano seguinte ao de expansão e intensa utilização da capacidade instalada.

- Não teremos um crescimento tão alto quanto o de 2004 até por um efeito estatístico, mas neste momento estou mais otimista em relação às perspectivas para a economia brasileira do que estava um ano atrás - afirma Luiz Macahyba, da Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima), que prevê expansão de 3,5% para o PIB.

Não-duráveis e construção terão destaque em 2005

Um pouco mais otimistas que o Banco Central (BC), que prevê crescimento de 4% este ano, estão a LCA Consultores, o banco UBS e a Sobeet (associação que reúne as empresas transnacionais), com estimativas de 4,1%, no primeiro caso, e 4,3%, nos dois últimos. Francisco Faria, da consultoria, diz que a projeção só não é maior porque dificilmente a economia mundial repetirá em 2005 a trajetória do ano anterior. As exportações, com isso, subirão menos, e o saldo comercial tende a diminuir em razão de um saudável aumento das importações em atenção à demanda interna.

- Há uma expectativa de desaceleração da economia americana e isso afeta o comércio mundial. Além disso, a expansão no setor de duráveis no Brasil será menor, porque ninguém troca de geladeira todo ano, e as exportações crescerão num ritmo menor - diz.

Significa dizer que o comércio exterior não será mais o elemento central a empurrar o PIB. Como os indicadores reais começaram a sinalizar no fim de 2004, a demanda interna e o investimento tendem a ser as alavancas da economia este ano. Trata-se de um desempenho melhor do ponto de vista qualitativo, sublinha Roberto Padovani, da Tendências:

- O crescimento deve se espalhar pelos segmentos de semiduráveis, não-duráveis e construção civil. Eles farão companhia aos setores que se destacaram em 2005.

Investimento de 22% do PIB para país crescer 3,5%

Sérgio Werlang, diretor-executivo do Banco Itaú, acredita que o desempenho do PIB estará intimamente ligado à estratégia que o BC adotar em relação à inflação. Se o foco for mesmo a meta central de 5,1% (que originalmente era de 4,5%), o PIB chegará a dezembro com expansão de 3%. Se a opção for por uma atuação mais flexível, com o IPCA indo a 6%, é possível crescimento de 3,5%.

Alexandre Bassoli, do HSBC, afirma que 2005 tem tudo para ser mais um ano muito positivo para a economia nacional, mesmo com um quadro internacional menos favorável que em 2004, especialmente nos EUA. Mas enxerga uma limitação à expansão acelerada do PIB brasileiro: a taxa de investimento ainda insuficiente.

- O país vinha de três anos de estagnação. Por isso, foi possível crescer tanto em 2004, apenas ocupando a capacidade ociosa disponível. Agora, o fim da recuperação cíclica impõe uma redução no ritmo de crescimento, que agora depende da expansão da capacidade - raciocina.