Título: DOIS ANOS SEGUIDOS DE EXPANSÃO NA ARGENTINA
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 02/01/2005, Economia, p. 31

Analistas estimam que PIB cresceu 7,5% em 2004. Este ano, desafio é retomar investimentos e acesso a crédito

BUENOS AIRES. Após crescer 8,7% em 2003, a Argentina deve ter fechado 2004 com variação positiva do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas pelo país) em torno de 7,5%. Em 2002, com a moratória da dívida externa, o país amargou uma recessão de 10,9%. Mesmo após dois anos seguidos de crescimento, afirmam analistas locais, a partir deste ano a Argentina sofrerá uma desaceleração de sua atividade econômica e passará a ter taxas de crescimento entre 3% e 5%. A ausência de financiamento externo, somada às incertezas em relação ao futuro do país, provocaram uma queda nos investimentos em 2004, estimados em US$13,5 bilhões. No ano anterior, o setor privado anunciou um total de US$17,2 bilhões em investimentos.

- Não houve aumento da capacidade de produção das empresas argentinas. Estamos chegando ao limite de nossa capacidade e a falta de definições políticas está adiando novos investimentos, que são necessários para dar impulso ao processo de reativação econômica - disse o economista Dante Sica, diretor do Centro de Estudos Bonaerense (CEB).

Segundo ele, um dos principais problemas é a falta de financiamento para grandes projetos industriais:

- Os bancos estão liberando apenas créditos de curto prazo, que em 2004 representaram 7,7% do PIB argentino. Em 1999, o total de empréstimos concedidos pelo sistema bancário chegou a 23% do PIB.

Previsão é de 400 mil novos empregos em 2005

Pelos cálculos do CEB, em 2004 os créditos aprovados na Argentina somaram 33,2 bilhões de pesos, montante que, na visão do diretor do instituto, não é suficiente para alavancar grandes projetos. Em 2001, por exemplo, que marcou a pior crise econômica da História argentina, o total de créditos foi de 64,7 bilhões de pesos.

- Ainda estamos em níveis muito baixos. A situação fica ainda mais complicada se levarmos em consideração que poucas empresas argentinas estão captando recursos nos mercados local e internacional.

O grande desafio do governo é evitar que a economia argentina entre num novo processo de estagnação. Em 2004, o país conseguiu reduzir a taxa de desemprego de 16,3% para 13,2%, graças à criação de 650 mil novos postos de trabalho. Pelas projeções de importantes consultorias, como a Ecolatina (fundada pelo ministro da Economia, Roberto Lavagna), em 2005 poderão ser criados 400 mil novos empregos, caso a economia continue mostrando sinais de forte recuperação.

País precisa de US$11,2 bi em financiamentos

Para Sica, a agenda do governo em 2005 será muito semelhante a deste ano:

- O governo precisa resolver o problema da dívida pública, definir a questão do reajuste das tarifas de serviços públicos e chegar, ou não, a um entendimento com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

As necessidades de financiamento da Argentina este ano atingem US$11,2 bilhões, dos quais US$5,7 bilhões são os vencimentos da dívida do país com organismos internacionais. Apenas nos primeiros três meses do ano, o governo terá que honrar o pagamento de US$1,4 bilhão da dívida com FMI, Banco Mundial (Bird) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).