Título: Luta pela sobrevivência em Aceh
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Fonte: O Globo, 02/01/2005, O Mundo, p. 36

Indonésia tenta fazer ajuda chegar a 2 milhões de pessoas em província arrasada

Quase uma semana após o devastador maremoto que espalhou dor e destruição em 13 países no Oceano Índico, deixando um rastro de pelo menos 145 mil mortes, a Indonésia - país mais duramente atingido - lutava ontem para fazer chegar assistência às áreas mais remotas da província de Aceh, arrasada pelo cataclisma. As autoridades do empobrecido país do Sudeste Asiático tentam desesperadamente evitar que o número de vítimas em Aceh, que já passa de 80 mil, aumente ainda mais por fome e epidemias. Calcula-se que dois milhões de pessoas tenham sido afetadas na província.

Em visita à região, o presidente Susilo Yudhoyono determinou aos militares indonésios que façam chegar as toneladas de remédios e suprimentos acumulados no aeroporto de Banda Aceh, a capital, às zonas necessitadas. No entanto, a destruição da infra-estrutura da província - que sofreu o maior impacto da catástrofe porque foi atingida tanto pelo violento terremoto de 9 graus na escala Richter como pelas ondas gigantes por ele formadas - torna a tarefa extremamente mais difícil do que uma simples ordem presidencial. Estradas foram destruídas, impossibilitando a passagem de veículos com ajuda, que só pode ser entregue por helicópteros, já que os aeroportos também foram danificados.

- Vai demorar semanas até que possamos chegar a todas as áreas isoladas - alertou Michael Elmquist, chefe do escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários na Indonésia.

Ontem, a distribuição melhorou um pouco com a chegada de uma força-tarefa naval americana ao litoral da ilha de Sumatra, em cuja parte norte fica Aceh. Uma esquadrilha de 12 helicópteros do porta-aviões Abraham Lincoln foi usada para levar os suprimentos às zonas isoladas.

- Sobrevoamos cidade após cidade e era como se elas tivessem sido devastadas por uma bomba atômica- disse o repórter Mike Chinoy, da rede de TV CNN, que acompanhou um dos vôos de assistência.

Helicópteros militares cingapurianos também participaram da missão, que já estava sendo realizada por aeronaves indonésias desde o dia anterior.

Primeiros sinais de volta à normalidade

Em Banda Aceh, a capital provincial arrasada pela catástrofe, a vida começava ontem a dar sinais de um lento início de retorno à normalidade, com tratores começando a limpar os escombros, mais carros nas ruas e mercados reabrindo.

- Estamos trabalhando noite e dia, mas a tragédia é maior do que qualquer um possa imaginar - disse o ministro de Bem-Estar Social indonésio, Alwi Shihab.

No Sri Lanka, 200 fuzileiros navais americanos chegam hoje ao país para trabalhar na ajuda às vítimas do maremoto. A subsecretária-geral assistente da ONU para Assuntos Humanitários, Margareta Wallstroem, disse que as autoridades cingalesas perecem ter ficado atordoadas nos primeiros dias com a magnitude da catástrofe, que matou mais de 40 mil no país. Segundo ela, isso pode ter retardado a resposta à tragédia.

Por sua vez, na ilha de Phuket, na Tailândia, devastada pelas tsunamis, a noite de Ano Novo foi marcada por homenagens aos mortos, com as pessoas acendendo velas e segurando rosas brancas. O governo da Suécia, que ainda busca entre 1.500 e 3.500 suecos desaparecidos nos balneários tailandeses atingidos pelas ondas gigantes, estima que o número total de estrangeiros mortos na região vai passar de 3.300, podendo chegar a 4.600.

No Vaticano, o Papa João Paulo II, em sua mensagem do Dia Mundial da Paz, ressaltou a mostra de solidariedade de todo o planeta para com as nações afetadas pela catástrofe no Oceano Índico.

BANGCOC, COLOMBO e JACARTA

"Sobrevoamos cidade após cidade e era como se elas tivessem sido devastadas por uma bomba atômica"

MIKE CHINOY

Repórter da rede de TV CNN

"Quando saímos do helicóptero, as pessoas correram para nós. Uma mulher se jogou nos meus braços chorando"

SABINE RENS

Médicos sem Fronteiras

"Nunca saberemos com exatidão o número de mortos devido a todos aqueles pescadores anônimos que sumiram"

JAN ENGELAND

da ONU, encarregado da ajuda humanitária