Título: TAILÂNDIA INVESTIGA FALTA DE ALERTA DE TSUNAMIS
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Fonte: O Globo, 02/01/2005, O Mundo, p. 37

Funcionários denunciam que aviso não foi dado pelo governo para não prejudicar indústria do turismo

BANGCOC. O governo da Tailândia prometeu ontem abrir uma investigação para saber porque um alerta sobre a possibilidade de uma tsunami na costa oeste do país não foi levado em consideração. O primeiro-ministro, Thaksin Shinawatra, quer averiguar as denúncias de que as agências meteorológicas do governo tinham indícios suficientes para lançar uma ordem de evacuação das áreas atingidas, que poderia ter salvado a vida de milhares de pessoas.

- Deve haver uma investigação sobre todo o incidente, como ele aconteceu, quando ele aconteceu e por que alertas preventivos não puderam ser divulgados - disse Shinawatra.

O premier reconheceu que a resposta oficial à tragédia foi desorganizada na Tailândia.

A pressão sobre o governo aumentou depois que o jornal local "Nation", publicado em inglês, citou declarações de um integrante do departamento de meteorologia do governo que afirmou que um alerta não foi divulgado por temor de que a indústria do turismo tailandês fosse afetada se o aviso posteriormente se provasse falso.

"Se lançássemos uma aviso que tivesse levado a uma evacuação, o que aconteceria depois? Os negócios seriam instantaneamente afetados", teria dito o funcionário, que, segundo o jornal, pediu para ter o nome mantido em sigilo.

Oficialmente, no entanto, o departamento declarou que não teria motivos para lançar um alerta nacional. De acordo com o meteorologista-chefe, Suparerk Tansriratanawong, a Tailândia não era atingida por uma tsunami há 300 anos e que seus funcionários não tinham razões para esperar uma agora.

O premier também anunciou a criação de um sistema de alerta precoce para desastres naturais e indicou Samith Dhammasaroj como seu diretor. Especialista em terremotos e maremotos, Dhammasaroj alerta para a possibilidade de tsunamis no país desde 1993.

- Ninguém ouviu meus alertas. Algumas províncias proibiram minha entrada em seus territórios. Disseram que eu estava arruinando sua imagem turística - disse Dhammasaroj.

Pelo menos 4.560 pessoas morreram na costa na Tailândia, mais da metade delas turistas. Ainda há milhares de desaparecidos e o governo teme que muitos deles estejam mortos.