Título: MUITA ESPUMA
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 06/01/2005, Panorama Político, p. 2

Apesar da proliferação de factóides, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) será o próximo presidente da Câmara. Ele tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do governo, da maioria dos partidos aliados, de parte da oposição e do PT. As resistências, como a dos ruralistas e do PTB, neste momento ainda são manobras que visam ao entendimento e não à contestação.

O próprio PT criou as condições para tanta espuma. O partido, que ficou imobilizado pelo projeto da reeleição de João Paulo Cunha (PT-SP), não fez uma discussão consistente sobre o assunto. Adotou uma forma esdrúxula de escolha do candidato: uma eleição em três turnos onde na primeira votação foram indicados três nomes. Essa fórmula foi abandonada no meio do caminho, pois o candidato acabou sendo escolhido numa votação da maior ala, o Campo Majoritário, e não na bancada. Greenhalgh teve 20 votos, Virgílio Guimarães (MG), 12, Arlindo Chinaglia (SP), dois, mais duas abstenções ¿ Paulo Rocha (PA) e Professor Luizinho (SP) ¿ e três votos para que a tendência petista não manifestasse preferência. O processo não teve a cautela de preservar quadros, como os líderes Arlindo Chinaglia e Professor Luizinho, que saíram enfraquecidos. Derrotado, Virgílio continuou em sua cruzada despolitizada. Sobrou amadorismo.

É nessa turbulência que surfam ruralistas, o PTB e o baixo clero. Os ruralistas já conversaram com Greenhalgh. Eles só querem que os projetos de seu interesse, aprovados pelo governo Lula, como a Lei de Biossegurança, não sejam obstruídos pela ação política do presidente da Câmara. O PTB, unha e carne com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e João Paulo Cunha, está procurando se posicionar num novo quadro, no qual Greenhalgh comandará a Câmara e o ministro Aldo Rebelo permanece na coordenação política.

Na oposição, o PFL ensaia uma candidatura para marcar posição, como o PT fazia no passado. Já os tucanos não sucumbiram a uma municipalização de sua ação política, por mais importante que seja a Prefeitura de São Paulo. O vice-presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), sinalizou que o partido quer estabelecer uma relação institucional com o PT. E o prefeito José Serra tem deixado claro que sua disputa é com a ex-prefeita Marta Suplicy e não com o governo Lula, de quem espera cooperação na área administrativa e financeira.