Título: NOVA LEGISLATURA, VELHO NEPOTISMO NA CÂMARA
Autor:
Fonte: O Globo, 07/01/2005, RIO, p. 13

No momento em que a Casa discute a criação de código de ética, pelo menos oito novos vereadores nomearam parentes para cargos

Os 50 vereadores do Rio começaram o ano dispostos a criar um código de ética para o dia-a-dia no Palácio Pedro Ernesto. O problema é que, já na primeira semana de trabalho, alguns já recorreram a uma prática da velha política: o nepotismo. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que, entre os 24 novos integrantes da Casa, pelo menos oito (33%) nomearam ou pretendem indicar parentes para cargos de confiança. O argumento de todos é semelhante: antes de serem primos, tios e irmãos, os parentes são pessoas qualificadas e competentes.

¿ Caso a nomeação seja de pessoas qualificadas, isto só vem a somar no trabalho do Legislativo. E não há ilegalidade em nomear parente ¿ diz o presidente Ivan Moreira (PFL), reeleito, que ontem confirmou para chefe de gabinete (com salário de R$5.870,95) o enteado Márcio dos Santos Valente de Oliveira. Antes, Márcio trabalhava num cargo de comissão na Diretoria de Transportes.

Cada vereador tem direito a nomear até 20 assessores. No gabinete da Pastora Márcia Teixeira (PL), quatro têm vínculos familiares. Para chefe de gabinete, a vereadora escolheu seu marido, Ezequiel Cortaz Teixeira, presidente do Conselho de Pastores do Estado do Rio de Janeiro. Os outros são: Zênio de Alencar (pai de Márcia), Tatiana de Alencar (filha) e Isael Cortaz (sogro). Somados, os salários deles chegam a R$16,4 mil brutos.

¿ Há 28 anos desenvolvemos um trabalho de recuperação social e espiritual. Parente ou não, todas as pessoas nomeadas vão nos ajudar a dar continuidade a este trabalho. O gabinete é altamente qualificado. Eu, além de pastor, sou advogado ¿ disse Ezequiel.

Nereide Pedregal (PDT), ex-chefe de gabinete do marido, o deputado estadual Antonio Pedregal (PSC), não terminou de escolher os assessores. Mas diz que no mínimo três serão parentes:

¿ Caso meu marido não fosse deputado, na certa seria meu chefe de gabinete. Vou escolher entre as pessoas da minha família que me ajudaram na campanha aquelas com capacidade profissional para trabalhar comigo ¿ disse.

Vereadora escolheu tio como assessor jurídico

Cristiane Brasil Francisco, filha de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, escolheu o tio paterno Ronaldo para assessor jurídico (salário de R$4.568,11).

¿ Ele é um excelente advogado eleitoral, que assessora o PTB há muitos anos. É meu tio, mas poderia ter sido qualquer outro nome qualificado ¿ justificou-se.

Nadinho de Rio das Pedras (PFL) vai nomear a mulher, Adriana Fernandes, que já trabalha informalmente no seu gabinete. Para ele, muitas vezes, se o parente trabalhar com empenho e amor à causa, os resultados aparecem:

¿ Meu pai tinha uma barbearia em Rio das Pedras. Eu era o secretário dele, ia todo dia trabalhar. O mesmo vale aqui na Câmara. Parente ou não, o importante é que trabalhe ¿ disse Nadinho.

A lista inclui ainda Márcio Pacheco (PSC), que indicou a irmã para o gabinete do colega Dr. Jairinho (PSC); Chiquinho Brazão (PMDB), com duas indicações; e Carlo Caiado (PFL), que escolheu o irmão, administrador de empresas, para chefe de gabinete. O oitavo é Jorge Felippe (PFL), que requisitou a irmã, que já era funcionária da Câmara do Rio.