Título: BRASIL VAI QUITAR DÍVIDA COM ÓRGÃOS LIGADOS À ONU
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Fonte: O Globo, 07/01/2005, Economia, p. 21

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a 49 embaixadores brasileiros com postos no exterior ¿ na primeira reunião desse tipo já feita no país ¿ que o Brasil pagará, até setembro deste ano, as dívidas com os organismos vinculados à Organização das Nações Unidas (ONU). São US$166,803 milhões, mais US$27 milhões relativos a este ano. Só com a ONU, são US$105 milhões.

A medida reforça a estratégia agressiva que será a diretriz da política externa em 2005, dando maior credibilidade aos brasileiros nos fóruns internacionais ¿ seja na Organização Mundial do Comércio (OMC), nas negociações entre Mercosul e União Européia e nas discussões para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). No campo político, a meta do Brasil é conquistar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

¿ O Bush (George W. Bush, presidente dos Estados Unidos) nos respeita. E isso porque começamos a respeitar a nós mesmos. Conversamos com os americanos de cabeça erguida ¿ disse o presidente, segundo um dos diplomatas presentes à reunião, que durou quase duas horas.

Segundo Lula, essa agressividade deve ser exercida com altivez, com os países mais ricos do mundo, e sem arrogância, com os países menos favorecidos, para fortalecer o Brasil no cenário internacional.

¿ Quem já chega achando que não pode, que é coitadinho, não é respeitado. Mas tudo isso sem arrogância. É preciso participar das negociações de maneira altiva e ao mesmo tempo com humildade ¿ disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

A prioridade absoluta da política externa em 2005 é fortalecer a integração entre os países em desenvolvimento. A idéia é fortalecer a linha defendida por Lula de uma maior integração Sul-Sul, mas não de forma isolada.

¿ O Brasil é um país pobre, não pode ter a ilusão de que vai fazer parte do grupo dos ricos. Queremos enriquecer dentro de um processo em que os outros também enriqueçam ¿ disse Amorim, acrescentando que o Brasil não deve ter pressa nas negociações comerciais. ¿ Uma negociação bem-sucedida não significa, necessariamente, que precisa ter um desfecho rápido.

Algumas vezes, por causa das dívidas com os organismos internacionais, por pouco o Brasil foi impedido de votar em fóruns importantes, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Amorim afirmou que, quando assumiu a pasta, o governo brasileiro devia cerca de US$300 milhões.