Título: PÔR ORDEM NA CASA
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 10/01/2005, Primeira Pagina, p. 2

Esta será uma semana importante para a base parlamentar do governo Lula. Os principais líderes dos partidos aliados interromperam o recesso e estarão em Brasília para fechar os acordos necessários às eleições dos presidentes da Câmara e do Senado. Estarão também à espera de serem chamados para conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a reforma ministerial.

O presidente Lula tem conversado muito nos últimos dias com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, sobre as mudanças que pretende fazer. Nestas conversas, Lula tem dado sinais de que a reforma será pequena e com o objetivo de fazer acomodações políticas e resolver problemas tópicos de gestão. Como nas reformas anteriores, não tem sido fácil montar as mudanças. Todos os aliados querem preservar seus espaços e setores do PT querem ampliar a presença petista no governo. Por isso, segundo um assessor do presidente, não será surpresa se o PP ficar de fora do Ministério. Uma das alternativas que está em exame é a de oferecer uma função de peso, como a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Mas para o governo colocar ordem na casa, além da reforma, terá de encaminhar esta semana a sucessão nas presidências do Senado e da Câmara. Os entendimentos estão avançados no Senado, onde seu presidente, José Sarney (PMDB-AP), estaria conformado com a derrota da emenda da reeleição, e apoiando a candidatura do líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL).

Mas na Câmara não foi debelada a crise interna na bancada do PT, onde alguns não aceitam a escolha de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT) e insistem com Virgílio Guimarães (MG). Os aliados já advertiram ao governo que será um parto difícil se Virgílio se mantiver como candidato avulso. Os principais líderes petistas vão se reunir hoje para tentar superar o impasse e acredita-se que o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), terá um papel relevante para evitar uma disputa no plenário da Câmara entre Greenhalgh e Virgílio. Se isso ocorrer, a oposição, que está dividida entre a tática do PFL de marcar posição e a do PSDB de respeitar o direito de indicação pela maior bancada, terá um instrumento para tentar impor uma derrota política ao governo Lula. A superação do impasse será mais um teste para a coordenação política do governo que, desde a primeira hora, trabalha para que o candidato oficial do PT presida a Câmara.