Título: Ouvir o povo
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Fonte: O Globo, 08/01/2005, OPINIÃO, p. 6

Estudos diversos indicam que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Milhões de brasileiros comprovam isso diariamente ¿ sobretudo os moradores das grandes cidades, que convivem com a realidade nefasta do tráfico de drogas, da circulação de armas de fogo, da criminalidade que se manifesta de mil maneiras e não pára de crescer.

Felizmente o impulso pacifista prevaleceu, e a sociedade brasileira tomou a decisão irrevogável de livrar-se de uma vez por todas das armas de fogo.

Não se discute mais se o Brasil deve desarmar-se; essa fase do debate já ficou para trás. A maioria deixou claro que assim o deseja, e o primeiro resultado dessa mudança de mentalidade é o Estatuto do Desarmamento. A nova lei é uma conquista de todos, mas é especialmente uma vitória dos inconformados, que tentam legar para seus descendentes uma sociedade pacífica, baseada no respeito à vida.

Mas mesmo enquanto comemora a vigência do estatuto e o êxito da campanha de recolhimento de armas, prorrogada por seis meses pelo Ministério da Justiça, o país precisa continuar em estado de alerta, para avançar na consolidação dos novos hábitos. Os interessados na manutenção do status quo, os defensores de uma sociedade em que cada um de nós seria um miliciano armado, não desistem facilmente.

O artigo 35 da lei prevê a realização em outubro de um referendo para banir o comércio de armas. É tempo, portanto, de as autoridades responsáveis pela consulta intensificarem os preparativos, para que a maioria possa pronunciar a palavra final sobre o tipo de sociedade em que deseja viver.