Título: O ministro da Previdência errou
Autor: Maurício Luís Tavares Adriano
Fonte: O Globo, 08/01/2005, OPINIÃO, p. 7

Recentemente o ministro da Previdência Social, Amir Lando, manifestou a decisão do governo de acabar com as filas nas agências do INSS, de combater a sonegação das contribuições previdenciárias e de combater as fraudes nas concessões de benefícios. Ótima notícia para toda a sociedade, apesar da enorme descrença do povo, pois tudo isso já fora prometido em governos anteriores.

Agora fala em recadastramento. O problema é que o ministro, assessorado por pessoas que, certamente, desconhecem a realidade (ou têm outros interesses), decidiu transformar a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev) na ¿Geni¿ do século XXI. Nada muito original, visto que o mestre Chico Buarque compôs esta música em 1978.

É sabido, pela própria imprensa, que o ministro Amir Lando não conseguiu ocupar os cargos de direção da Dataprev com seus indicados mas, a partir disso, decidiu iniciar uma campanha pela imprensa execrando uma empresa com 30 anos de serviços prestados ao Brasil, além de desvalorizar e desqualificar os empregados que dedicaram e continuam a dedicar boa parte de suas vidas em prol da melhoria da Previdência Social. Com isso, ultrapassou os limites de uma briga por espaços políticos e presta um desserviço à Previdência e ao país.

Não é verdade sua afirmação de que os sistemas da Dataprev são um ¿queijo suíço¿ porque, se o fossem, não seriam eles o principal sustentáculo do brilhante trabalho que as forças-tarefas têm desempenhado na apuração de fraudes e na indiciação dos responsáveis. É importante salientar que todos os sistemas implantados pela empresa são, como não poderia deixar de ser, encomendados, homologados e aceitos por seus clientes, no caso o próprio Ministério da Previdência e o INSS.

Os sistemas possuem senhas de acesso que são geridas pelo próprio INSS, cabe a este determinar quais funcionários estão autorizados a realizar as alterações nos sistemas e dados. Portanto, se houver uso indevido de senhas, esta responsabilidade é única e exclusivamente do cliente.

A Dataprev não é uma empresa perfeita nem tem os melhores sistemas do mundo. Apesar disso, ela processa mensalmente, sem atraso ou erros, uma folha de pagamento com 23 milhões de aposentados. As dificuldades técnicas pelas quais passa são fruto do total descaso das várias administrações do governo federal, inclusive a atual, que não realizaram investimentos, há mais de uma década, em tecnologia (hardware e software) nem no desenvolvimento das pessoas que trabalham na empresa.

Há muito a Polícia Federal vem desbaratando quadrilhas especializadas em roubar a Previdência Social. Recentemente, com o advento das forças-tarefas que envolvem, além da própria PF, funcionários do INSS e da Dataprev, esse trabalho se aperfeiçoou e os fraudadores são denunciados e presos quase que diariamente. Pois bem, em todo este tempo nenhum empregado da Dataprev foi acusado, preso ou processado por este crime, que deveria ser tratado como hediondo, tal sua perversidade. Numa recente entrevista ao jornal ¿Correio Braziliense¿, um repórter afirmou ao ministro que a Dataprev era um grande foco de corrupção e este disse apenas que iria modernizar a empresa, acatando a afirmação do irresponsável jornalista. Saibam todos que a Dataprev não é uma casa de corruptos: ao contrário, é uma organização séria e com relevantes serviços prestados.

É importante afirmar que muitos dos que desqualificam a empresa podem estar ocultando interesses escusos de contratação de milionárias consultorias e de aquisição de bens e serviços a preços acima dos praticados pelo mercado. A Dataprev não precisa de benesses do governo federal. Basta que seu principal cliente, o INSS, pague os mais de R$100 milhões que são devidos por serviços já prestados e aceitos. Com estes recursos será possível à empresa realizar parte dos investimentos necessários e requalificar adequadamente seus empregados.