Título: APOIO DA OPOSIÇÃO
Autor:
Fonte: O Globo, 09/01/2005, PANORAMA POLÍTICO, p. 2

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ainda não sabe qual o apoio que o projeto de autonomia do Banco Central terá no PT e entre os aliados dos partidos de esquerda. Mas, a exemplo da reforma da Previdência, ele contará com os votos do PSDB e do PFL à proposta. A oposição não faz favor ao governo Lula, está sendo apenas coerente com a posição adotada no governo Fernando Henrique.

O vice-presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), e o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), afirmam que os dois partidos sempre foram favoráveis a esta proposta e não mudariam só porque agora estão na oposição. Os tucanos, a exemplo do que fizeram na votação da lei das Parcerias Público-Privadas, reservam-se o direito de discutir o mérito da proposta, sobretudo o grau de autonomia que o Banco Central (BC) terá. Com uma bancada de 51 deputados e 13 senadores, os tucanos reconhecem que esta posição não é unânime, mas avaliam que a maioria é favorável à proposta de Palocci, pela qual o governo eleito decide a política e o BC tem liberdade para executá-la. Para Azeredo, é preciso encontrar uma proposta que restrinja o voluntarismo político e ao mesmo tempo não consagre um poder tecnocrata, que não considere que o Brasil é um país em desenvolvimento.

Os pefelistas estão articulando uma reunião de deputados e senadores com o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, para discutir o mérito da proposta do governo. Também no PFL não há unanimidade, mas a maioria de seus 61 deputados e 17 senadores é favorável à autonomia. Rodrigo Maia, que no passado apresentou projeto sobre o tema em parceria com o deputado Roberto Brant (PFL-MG), diz que as propostas do governo e da oposição são convergentes. Para ele, há consenso de que o BC deve trabalhar para cumprir metas estabelecidas pelo governo com a previsão de perda do cargo no caso de não-cumprimento. Os pefelistas também querem discutir a forma desta autonomia e dizem que, no caso do BC, o governo Lula não pode cometer o mesmo erro do governo Fernando Henrique. O governo passado criou agências reguladoras, mas não lhes deu autonomia orçamentária. No caso do BC isto poderia servir de instrumento de pressão. Rodrigo está entre os que acreditam que, superada esta questão, governo e oposição poderão se concentrar no debate sobre os diversos programas sociais e a eficiência destes para promover o desenvolvimento e superar as desigualdades.