Título: TURISMO SEXUAL
Autor:
Fonte: O Globo, 09/01/2005, O país, p. 3

Combate à exploração de menores

Parte do setor turístico e autoridades locais resistem, mas governo federal planeja ações contra prostituição de crianças e adolescentes

OMinistério do Turismo começa amanhã a planejar as ações da campanha contra a exploração de crianças e adolescentes no turismo sexual com um desafio: vencer a resistência das autoridades locais, principalmente as ligadas ao setor, que insistem em não reconhecer a existência do problema em suas cidades e estados. Ao contrário das campanha lançadas até agora, a mobilização deste ano não terá um tom repressivo ou ameaçador, para reduzir a oposição.

¿ Os secretários de Turismo precisam ser conscientizados. Eles temem que esse tipo de mobilização afaste o turista ¿ lamenta a socióloga Marlene Vaz, co-autora do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.

A campanha de combate ao turismo sexual terá amanhã a primeira reunião com as instituições públicas e privadas envolvidas na mobilização. O objetivo do Ministério do Turismo, já para o verão, é pôr em prática uma série de medidas para inibir o fluxo de estrangeiros que visitam o país interessados na exploração de crianças e adolescentes.

¿ Parte do setor turístico pensa que falar sobre isso é negativo, mas ignorar o problema é que é negativo ¿ lamenta a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), relatora da CPI mista do Congresso que investigou, no ano passado, a exploração sexual de crianças e adolescentes.

Entre essas ações estão o treinamento e a capacitação de trabalhadores que atuam diretamente na prestação de serviço ao turista, desde garçons e recepcionistas de hotéis até lavadores e guardadores de carros. Esses profissionais seriam preparados para detectar esse tipo de turista e até denunciar a exploração sexual de menores.

¿ Vamos distribuir cartilhas alertando que hóspede não pode entrar nestes estabelecimentos com menores desacompanhados ¿ disse Norton Lenhart, presidente da Federação Nacional de Hotéis e Restaurantes.

O turismo com exploração sexual de crianças e adolescentes não atrai apenas visitantes estrangeiros. Envolve também turistas brasileiros e conta com a cumplicidade, por ação direta ou omissão, de agências de viagens, guias turísticos, hotéis, bares, restaurantes, boates, lanchonetes, quiosques de praia, garçons, porteiros, postos de gasolina, taxistas, prostíbulos, casas noturnas e de massagem, além da tradicional cafetinagem.

Com corpo de menina e discurso de mulher, a pernambucana G., de 17 anos, garante que ninguém é feliz no seu meio.

¿ A pior coisa na vida de uma mulher é se deitar com um homem que nunca viu ¿ afirma ela, que já está com a primeira viagem marcada para a Alemanha.

G., que cobra R$150 por programas de três horas, faz parte de um contingente de crianças e adolescentes aliciadas pela indústria do turismo sexual, cuja quantidade e distribuição o governo desconhece.

Brasil não tem dados sobre turismo sexual

Apesar de não haver dados oficiais sobre o número exato de crianças e adolescentes explorados sexualmente, estimativas do Unicef revelam que, a cada ano, cerca de um milhão de meninos e meninas sofram algum tipo de violência sexual. Desse total, estima-se que 100 mil sejam distribuídos entre Brasil, Filipinas e Taiwan.

A CPI mista mapeou as principais rotas que alimentam os centros turísticos do país e apontou a participação de autoridades ¿ prefeitos, vereadores, deputados estaduais e até um juiz ¿ na exploração sexual de crianças e adolescentes.

O coordenador de ações do Ministério do Turismo, Sidney Alves Costa, disse que o Rio foi escolhido para iniciar a campanha por ser a principal porta de entrada do país. Mas a cidade não está entre os principais centros de turismo sexual. As capitais do Nordeste, com destaque para Fortaleza (Ceará), e algumas do Norte, em especial Manaus (Amazonas), concentram a maior ocorrência de casos.

Empresas aéreas como a Gol e a TAM já começaram a atuar. Comissárias de bordo anunciam a campanha contra a exploração sexual, anunciam o número do disque-denúncia e dão o slogan da campanha.