Título: Em Fortaleza, campanha contra exploração começa no aeroporto
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Fonte: O Globo, 09/01/2005, O país, p. 4

Agências oferecem pacote a dois mil euros incluindo programas com menores

FORTALEZA. Um dos principais destinos turísticos do Brasil nesta alta estação, com 550 mil visitantes aguardados até fevereiro, Fortaleza também é um dos principais roteiros do turismo sexual. Tanto que o problema virou tema de governo. Ao desembarcar no aeroporto internacional, os turistas recebem folhetos em português e inglês lembrando-os de que exploração sexual de crianças e adolescentes é crime e dá cadeia. Também já saem com o código de conduta ética do turismo, feito a partir da criação do Comitê Cearense Interinstitucional para o Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em março de 2004.

Ações de inteligência envolvendo as polícias estadual, federal e até a Interpol têm desbaratado quadrilhas internacionais. Em dezembro, com a prisão de Luigi Miraglia e Angélica Ribeiro, na Itália, descobriu-se que um pacote para 15 dias na capital cearense, incluindo programas com meninas de 16 a 18 anos, custava dois mil euros (cerca de R$6 mil). Caso desejassem menores de 16, havia uma taxa extra entre 15 e 20 euros. O casal era dono de uma agência de viagens em Fortaleza que foi fechada pela Polícia Federal.

Alemão oferecia pacotes para o Brasil em site

Em outubro, foi preso o alemão Oliver Frank Gunther. Ele mantinha um site que oferecia pacotes para o Brasil por 2,5 mil euros (R$7 mil). O valor incluía passagens aéreas, traslado para o hotel, diárias e uma acompanhante por duas semanas. No site, retirado do ar, Gunther citava hotéis e motéis de Fortaleza e fazia referência à colaboração de taxistas.

Apesar das ações, são corriqueiras as cenas de turistas com garotas de programa nos principais pontos turísticos da orla, como a Avenida Beira Mar ou em bares e restaurantes de classe média alta. Para flagrar menores, basta freqüentar o calçadão da orla de madrugada.

Também não foi à toa que o governo decidiu começar pelo aeroporto a campanha. Garotas fazem prontidão nos horários de chegada de vôos internacionais. Casais se formam já na área de desembarque.

¿ Não negamos que existe o turismo sexual. Mas temos uma política estruturada de enfrentamento. Aqui é lugar de família. Se vier com esse objetivo, vai se enrolar ¿ diz Fernando de Albuquerque, coordenador de produtos turísticos da Secretaria de Turismo do Ceará.

A delegada da Divisão de Apoio aos Turistas, Cândida Brun, afirmou que o combate à exploração exige um grande esforço. Como a prostituição não é crime no Brasil, segundo ela, o turismo sexual é uma ficção.

¿ Como não podemos tipificar turismo sexual como crime, o que fazemos é incomodar e constranger, mostrando que essa é uma atitude que a gente não quer ¿ diz ela.

Turistas suspeitos são abordados pela polícia

Uma forma comum de constrangimento é a abordagem de turistas suspeitos. No caso de estrangeiros, a polícia pede que mostrem o passaporte. Muitas garotas usam carteiras de identidade falsas, principalmente as menores. Outras ¿ conhecidas por aplicar o golpe Boa Noite Cinderela ¿ porque temem ser identificadas. Elas são levadas à divisão de turistas e fichadas.

Em investidas como essa, as autoridades conseguiram levantar o perfil e a origem do turista indesejado. Acabaram descobrindo a relação entre esse público e algumas operadoras. O governo chegou a intervir e cancelar um vôo charter da Itália no ano passado e tem acompanhado a divulgação feita pelas operadoras nacionais e estrangeiras. Campanha com fotos de mulheres em trajes mínimos está sendo desencorajada.

Principal vocação do Ceará, o turismo deve gerar uma receita até o fim do mês de R$532 milhões, representando 11,2% do PIB no período.

¿ Não podemos pegar fama de lugar caro nem de paraíso da prostituição ¿ diz Albuquerque.